a quem interessa
se pensar depressa
e num poema qualquer
disser algo semelhante
uma frase inquietante
que nos ponha a reconhecer
um segundo perdido, uma palavra de um velho amigo
assim deixada para atrás, um momento sem idade
sem estar sedento na cidade, desse licor de humanidade
que se bebia campos afora, que se perdia ao se ir embora
e que ainda flui qual coisa sem se ver,
qual um algo a adquirir sem se deter:
a pensar, que tempo é qualidade
que a vida tem vontade
e que humanidade traz verdade
se não se mentir pelo que se faz
encontrar recantos sem estarem vedados
olhar nos olhos sem estarmos fardados
a representar, palavras desta oficialidade
em nome da profissionalidade
nos levando longe demais...
uns dos outros, sempre outros sempre a desconhecer
e ver o rosto ferido, desse ser que também digo
esse que vai aonde nada maia há
quando o ser querido era simples
viemos para voltar a encontrar
o tempo para se ter tempo
para se saudar e ser saudado
olhar nos olhos sem mais cuidado,
e erguer a mão... para acariciar:
veredas sonhadas faces mostradas e sempre algo novo a se comentar
que nós sendo pequenos, contávamos tantos segredos que até os devanceiros
que eram dos últimos os primeiros, ficavam com sede no olhar a arder
desse reconhecimento, que se ganhava sem querer
desse ser simples por dentro, criança a renascer;
e não mais ser fábricas ambulantes, produzindo por instantes
produtos sem mais, que ser humanidade era ser em verdade
para todo o ser que, em comunidade, encontrava a felicidade
no simples, ainda plantada, estava a semente da virtude sem jamais ser semeada
apenas seres simples, sem mais tantas penas deixadas, asas de sonho espelhadas
ao ver nascer o sol, ao sentir o rouxinol a voltar a cantar, ao ver a luz de uma candeia
a cintilar, mil e uma estrelas acesas nesse lugar a nos inspirar, e nessas risadas singelas
que transpareciam cortinas e janelas e chegavam às ruas sempre cheias, desse algo a passar
umas vezes um rosto de amizade, umas outras um ser sem idade,
outras tantas, tantas e tantas vontades!...
à volta da fogueira sem sequer imaginar
que o calor dessa verdade
fosse tão simples de se acender
e no peito amigo voltar a pegar
espera! dança comigo
nessa melodia que já não sigo
por estar sempre a correr!...
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