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sexta-feira, novembro 26, 2010

Strength and honor


Sempre que dizes a verdade que te habita no peito, arriscas a ficar só. 

Na grande maioria das vezes - posso garantir que ficarás mesmo...


Agora, se não o fizeres: dizer, ser e fazer quem és - ficarás só perante ti mesmo;

E o vazio é bem pior do que a ameaça de remar só contra a maré ou o confrontar de frente a ilusão comum. 



Respeita-te ao ponto de acreditar no que és,


mesmo que apenas o eco responda à tua voz. . .

quinta-feira, novembro 25, 2010

Silêncios



O silêncio de estar entre a multidão de vozes...



De que adiantará berrar a tua verdade aos quatro ventos,



No meio de uma praça onde toda a gente berra?



Teremos imposto uma nova ditadura de silêncio, 



fazendo todos berrar sem batuta a dar contraponto, acorde ou clave de base?



Seremos ainda escravos - mesmo que todos pareçam livres para falar,



Se não houver REALMENTE algo ou alguém:




que tenha tempo ou disponibilidade para nos ouvir?...


 
Com AMOR...
 
 

CHECK



O Zé jogava as suas lindas peças… gostava dos engraçados peões, tão pikininos e tão alinhadinhos: passo a passo – como caracóis entre as casas negras e brancas, arrastando-se pelo tabuleiro, indefesos – meras formalidades para abrir caminho aos “canhões” que se mexiam com rapidez e “matavam” onde queriam e quando lhes apetecia…

Adorava a torre – era sólida e segura – e queria "tirá-la" logo que podia. Era “fixe” arrasar as casas em linha recta e entrar pelo meio dos peões do adversário sem pedir licença, nem haver agravo.

O cavalo era um espectáculo! Era giro, tinha estilo, saltava e era "muita nice": dar dois ou três pulos e furar no meio dos peões – saltava pelas defesas – e matava até a Dama, ainda antes d’ela sair…

Os bispos – não os curtia. No fundo – se tinha as torres – que eram tão potentes – p’ra que raio queria aqueles peões grandes, de “racha” na testa, que andavam sempre na mesma cor e só cruzavam o tabuleiro p’ra se exibir?

O que o Zé gostava mesmo era de "sacar" a Dama. Mal tirava a “altona” como lhe chamava – dava cabo de tudo o que mexia. Às vezes lá perdia a peça mas – pá – dava cá um show… e – até ganhava às vezes mesmo sem a “altona”…



O Rei – esse nunca entendeu para que servia… ficava ali – parado.

Só andava como um peão – passo a passo.

Passava o jogo “metido na gaveta”, não matava nada e ainda fugia como covarde ,cada vez que era atacado… peça tão “cricas” pensava – era a mais alta, andava de cruz às costas – e só fazia “merda”.



Um dia sentou-se um velho na mesa do parque onde o Zé dava “coça” nos pequenotes,. O Zé falava-lhes amiúde da regra da saída dupla de peão, mostrando como podia comer até duas peças na mesma jogada se eles se distraíssem…



O velhote viu, sentou, pediu para jogar… e disse que começava sem Dama, sem bispos, torres ou cavalos – apenas peões e o tal rei caquético que o Zé tanto detestava.



Lol! O velho era curtido. Quase não se mexia, as mãos tremiam, devia-lhe faltar a dentadura e parecia meio cegueta detrás dumas lentes que já deviam ter visto duas guerras mundiais…
Enfim – que se pode fazer – há que aceitar os trunfos que a vida coloca nas mãos ,sempre que estes aparecem!


O Zé viu os peões do adversário ficarem unidos em cadeia – não compreendeu.

Quando chegaram perto das suas linhas e o velho anunciou “en passant”, o Zé ficou a ver navios.

Quando as suas peças foram sendo tomadas com uma lógica inexorável, o tal Zé começou a suar.

Quando o peão entrou na linha de fundo e coroou para se transforma num cavalo, dar um cheque duplo e tomar a sua “grandona” ele não acreditava no que via.



Ficou - no final - um rei contra rei e peão… e ele tinha vantagem!

Agora nada podia correr mal.
O rapaz avançou com o peão à frente – protegendo o seu “rei caquético”.

O rei do adversário tinha batalhado todo o meio-fim da partida – tomando peça após peça de entre o seu mermado exército de peões. Agora barrava o avanço da sua peça ,com irritante celeridade.

Já estava mesmo a perder a paciência! 
Bolas… que raio – estava tão perto e não conseguia sacar outra vez a “grandona” para dar uma sova no raio do velho?



Perto da linha final – o velho meteu-se a um canto… era agora!

O raio do pedaço de madeira, com cruzinha às costas,  não tinha mais por onde se enfiar…

Avançou o seu peão atingindo a tão almejada penúltima linha – já estava tudo nas mãos!

Era TUDO dele! Tinha custado, mas – bolas – ia ganhar esta partida…




O velho não era o que parecia, tinha dado luta… A sorte tinha dado ao velho peças, tinha-o levado a tomar as peças mais importantes e tinha despido a defesa até deixar  o Zé com apenas um peão.

Neste processo, o Zé prendera o valor das “pequeninas”.

Aprendera a não confiar apenas na força das grandes, fortes e mais luzidias do tabuleiro… bem – agora já estava… sim senhor!

Como no "Karate Kid" – tinha aprendido a controlar o tabuleiro e as peças.

Tinha saído vencedor! E isso era o único que importava…

Este Zé crescera! Como era bom agora, como era sábio, brilhante e espectacular!


Ia retar o velho a uma nova partida – desta vez com todas as peças, claro!

E – porque era bom, justo, modesto e sensato – ia deixar o velho ganhar.

Para depois esclarecer os admiradores mais novos que o tinha feito por respeito ao coitado…

O velho olhou-o serenamente: como que penetrando lentamente – fibra a fibra – na vida velada do Zé.

Incutindo nas suas fábulas de Play-Station e Gormittys algo de conteúdo de vida – compreensão, paciência, fé e esperança.

 
Retirou uma folha de dentro do bolso - esburacado por qualquer parasita dos tecidos.

Colocou  o papel por debaixo do Rei. 

Levantou lentamente. 

Olhou com serenidade a plateia de crianças que se encontrava em derredor da mesa.

Pareceu ao Zé que fez algo parecido a um saúdo de reconhecimento: por detrás das lentes riscadas – mas aqueles olhos cansados podiam estar a dizer qualquer coisa – o Zé não conseguia perscrutar a verdadeira profundidade da pessoa que tinha em frente...

Lentamente, aquela personagem deslizava parque afora – com o seu andar zorumbático - retirando-se tão silenciosamente como tinha aparecido…

O Zé estava como que magnetizado por aquela saída – lenta – mas inesperada.

Nem um nome, nem uma palavra, nem um repto… nada – apenas o lugar onde estivera o tal velho - agora vazio. 

O rei a um canto e o papel por debaixo – meio enrugado…

O resto dos putos olhava, apardalado de igual maneira.

O Zé levantou-se.

Foi até ao outro lado da mesa; pegou no pedaço de madeira entre as mãos … como que sentindo ainda o calor de quem o sustivera - ao longo de uma partida que parecera eterna.


O papel levantou um pouco com a brisa… na sua brancura ondulada apareciam umas linhas , entre os vincos amarrotados. 

As linhas – numa caligrafia fina ainda que ondulada – como tremida – tinha escritas 7 letras…

“AFOGADO”…


O Zé fixava a letra do centro enquanto o seu olhar se perdia em todas e cada uma das jogadas que o velho desenvolvera ao longo do jogo…

Cada passo, cada aparente distracção, cada movimento vacilante, cada perda despreocupada, cada momento de impasse e cada olhar perdido no vazio tinham formado parte de uma partida cujo final estivera no bolso do velho desde o início… um empate calculado ao pormenor desde um princípio.

Zé ficou absorto, enquanto o resto da canalha pululava à volta do seu líder, procurando descobrir o motivo da anodia total na que ele se encontrava – sem compreender de forma alguma – o que é que a água poderia ter a ver com o Xadrez…

Bem haja…

quarta-feira, novembro 24, 2010

VIRtuAL LOve








PrioRaridades
Agora corro – com o meu GPS – pelo meio de uma avenida… fascino-me vendo os números das casas passar, as descrições das ruas, até as curvas precocemente desenvolvidas no ecrã virtual… enquanto a minha vista se afasta do negro asfalto e se concentra cada vez mais no aparelho atractivo…

Cores garridas, vozes sensuais e muito mais me atraem para um outro mundo, que reflecte a “realidade” – tal qual – alguém viu e esboçou num ecrã de vidro artificial que responde ao meu tacto de uma forma personalizada…

Nem a pele da pessoa amada responderá assim, nem a sua voz será tão sensual, nem as cores desta rua serão tão garridas ou a sequência das curvas da estrada tão ondulante - harmoniosamente definida; nem os tempos assim tão perfeitamente pautados… 



“É isto que eu quero!” Diz a voz interior, seduzida pelo factor ficção.

De repente, o carro esbarra numa berma…

Uma rotunda apareceu no local onde – no ecrã - estava um simples cruzamento contínuo. 

Afinal sempre existia uma “realidade”, onde os profetas dos novos tempos anunciavam o vazio recriável pelo ecrã GPS…



Mensagem piscando em aparelho GPS: 

Assinalar alteração de rota?”… 

Enquanto a letra virtual pisca, algo acontece além do vidro pára-brisas: uma velhinha olha placidamente o carro, enquanto passa - na sua velocidade própria - para o outro lado da rua …

As pessoas ainda não aparecem nos aparelhos eléctricos… ou será que já lá estão à muito colocadas entre a programação virtual, e – simplesmente – o nosso “software” ainda não as tinha detectado?

No fundo – à que ser “hard” para enfrentar estes tempos “soft” – nos que a dor da perda, da distância e a crónica dor subtil do dia a dia que se esvai – se vão sobrepondo à voz levantada e a estalada dada no tempo recorde, que caracterizaram a cultura do século anterior.


Ave aos novos tempos e as suas subtis aparências.

Eva nos salvará...



domingo, novembro 21, 2010

LISTEN



When we fight against each other – all the energy of this world turns to burn those things we helped to build.




When we can’t find things we did together or the bridge which made us feel closer: the path we stepped to cross over the other side fades in the mists – and all the world becomes so huge to be filled with warmth, an inmmensity impossible to embrace with two human arms as simple as these;



Then we stare at the drops of paint all over the walls, feeling how ugly they have become... the picture which was being created there fading and disappearing inside the realm of the things which could have been but we'll never get to know.








One LOVE





Algo ou alguém no que confiar inefavelmente…


Já inventamos Deus, inventamos os anjos, os universos paralelos, as vidas passadas e o Harry Potter…

Já demos a volta ao mundo, já vivemos nos céus ou baixo a terra e – seguimos buscando.

Já criamos laços de sangue, irmandades, estados, nações, alianças e estandartes…

Já nos lançamos nos abismos insondáveis e procuramos no espaço sem fim…

O que vemos no espelho em nada se parece ao que procuramos – não tem asas nem halo, não tem brilho nem aura – parece-se a ti… e a mim.


O transcendente está à tua frente.

Um abraço

sexta-feira, novembro 19, 2010

Era Uma Vez



- No tempo do Salazar é que era!...

Dizia ela – cabelo meio solto, canadiana em punho, olhar sereno, fixo… determinado.

- Não podíamos falar na rua, e ele bem nos disse “Eu vou tomar conta do país”… “Livro-vos da guerra mas não da fome”…

A Dona Ana, aos 20, encontrava-se baixo o “stresse” (o Eu-stresse, porque “Di” ainda não havia naquele tempo, e só começou a ser capa de revista quando a Dona Ana começou a tomar conta do Irmão acamado) da lide doméstica. 

Aos 30 sonhou… uma outra vida, projectada no tempo… tomava anti-depressivos, depois passou para ansiolíticos, fazia Psicoterapia por bloqueio sexual, tratava-se na psicóloga por questões de bulimia, tinha um affair com o professor de “body-pump” – vulgo corpo aos pulos - do ginásio que frequentava, a sua página de admiradores no “face-book” – vulgo livro de caras ao contrário -  era comentada por mais de 30 pretendentes e 80 admiradores.
Conseguia gerir o seu cargo de professora responsável pelos programas de educação sexual em meio escolar, coordenadora de curso, directora dos directores de turma e tinha tempo para acumular.

Era uma amante exímia após ter lido o “Kama-sutra” – vulgo livro do amor (amar o próximo) e ter concordado com quase todas as perspectivas da série – bem real – Sexo na Cidade.


Lera Paulo Coelho e sabia que a sua evolução espiritual estava acima de tudo – pelo que treinava nos fins-de-semana as suas técnicas de meditação (coisa moderna baseada na prática antiga de dar tempo ao importante e que levou a cultura na que se insere a ter uma taxa de emigração superior à média, por isso queremos ser todos como eles e ir parar à Índia!); participava em workshops para aumentar a auto-estima, confiança e – como adenda – promover a evolução da consciência ao nível de avatar encarnado nível 20 (bem – aqui já se confundia um pouco com o jogo do filho mais velho – World of Warkraft” – vulgo Mundo da Arte da Guerra - cuja temática acompanhava com insistente dedicação, dado que a criança ocupava 5 horas por dia no desenvolvimento do seu “char” – abreviatura para “character” – tempo mínimo exigido pelas “guilds” – associação de entidades virtuais baixo a mesma facção, cooperando para o mesmo fim. Como é evidente, este jogo é meramente didáctico – não sejam as mortes por arrancamento de cabeça que são exigidas para ter “honor kills” – vulgo, morte por honra – para que a criancinha acumule méritos que lhe permitam ter rango “respected” – vulgo “respeitado” entre as várias organizações que promovem o bem estar dentro do mundo virtual do moço que – por acaso – até tinha uma ferida infectada com tecido desvitalizado à uma semana e que – oops – a mãe viu quando o puto se coçava de forma disfarçada enquanto lutava mais uma hora no PC fixo – usurpado ao progenitor do sexo masculino arrancado a esta história por virtude do guionista da série o ver como complemento à mulher a dias que era paga para dar mais 5 horas à casa do que aquilo que devia; colocado mesmo ao lado do portátil da mãe – modelo gprs com leitura de “blu tuth” – vulgo blue tooth entre vernáculos – competindo os dois a ver quem aguentava mais horas em casa frente ao ecrã virtual, procurando finalizar os programas escolares novos até às 2 da matina enquanto o puto “limpava” mais um “boss” – vulgo patrão – de uma “dungeon” – vulgo masmorra – numa das novas zonas do seu jogo – curiosamente chamada “Novo Minho”).


Ao fim, colocando a sua nova lingerie – com fio dental até ao intestino grosso – cólon ascendente – espera que o marido responda com palavras tão ilustres como o último admirador secreto da sua página “Web” – vulgo rede – que, com galanteio e extrema delicadeza, a fez sentir como a mulher mais fascinante do mundo (entre as restantes 483 contas de página Web que o marmelo acompanha no seu tramitar de situação patológica – que para ele funciona como “catarse” – vulgo “foder” o vizinho, a mulher do vizinho ou alguém em particular em vez de foder a minha particular vida “novas aspas para evitar o segundo parêntese e esclarecer que “foder” é um termo erudito – que vem do latim “fodere” e significa “escavar” – e que não tem nada de mau se se (aqui já se repete o condicional para evidenciar a condição da conjuntura humana actual) encontrar num café um dia para tomar um copo, seduzir a tal tipa com muita fogo que o que queria era que lhe chamassem nomes “fdd” – reduccionismo para o termo anteriormente descrito – já que, com o marido – se sente tão “castrada psicologicamente” – vulgo igual ao que se fazia antigamente com os gatos, mas desta vez na cabeça das pessoas – que não conseguia manifestar plenamente a sua sensibilidade feminina e a “deusa” em cada mulher – vulgo paranóia que alguém criou num livro que depois vendeu uma carrada de livros parecidos com os homens, animais e até plantas – que têm os seus “devas” – vulgo, mais uma merdice da tal Índia - nas estantes das livrarias mais modernas).



No fundo – conseguia a proeza de deixar morrer os cactos da casa à sede, pois – óbviamente – se preocupava sobremaneira com as causas ecológicas do planeta e, até – tinha construído um texto no seu “facebook” – idem ao anteriormente descrito, mas agora sem “tracinho” – digo, ífen – sobre o abuso que as florestas amazónicas sofrem à mão dos desapiedados exploradores de madeiras virgens, que desbravam a floresta e que nada têm a ver com a cadeira último modelo que se dispunha a comprar se não tivesse comprado as botas de tacão – extremamente baratas – que vieram dar um ar de “cavaleira” – vulgo, mulher que monta um garanhão ou animal cavalar que se deixa domar após um estado crónico depressivo e que não tenha estado sujeito ao ambiente livre o tempo suficiente para saber a diferença entre o que é cavalgar em liberdade e o cavalgar com brida…



Retomando o tema – deixando a tal Brida de parte enquanto encontra o décimo-quinto mistério da essência do feminino baixo a alçada do seu Mago de Folk (nome em código para folklore – claro – “não coloco agora aspas para explicar que o “k” não existe no alfabeto português original, pelo que fica mais “chique” – vulgo cricas - mas menos entendível) – retomando o tema, a tal cadeira seria de importação (via China, logo comprada da madeira que os tais desapiedados tinham desbravado na floresta da tal Amazónia – e não a Amazona que matava gente – mas sim a outra que era fina o suficiente para aparecer nos livros da Ilíada (que ela nunca leu na Universidade, mas que lhe permitiu “sacar” – vulgo ser mais esperto do que os outros mesmo sem saber atar os atacadores - o curso mesmo assim pois as sebentas servem para tudo – sobretudo se forem virtuais)…


É claro – hoje - está com “burn out” – vulgo queimada – aos 30 anos, e – talvez – a tal Dona Ana tenha uma certa razão quando dizia:

Vi uma mulher passar na rua ontem – ia com meias (é complicado dizer “collants” pois, naqueles tempos, era tudo de lã e a França era mais de emigração que de importação) e até usava um cinto!


A Dona Ana não toma psicotrópicos… aos seus 82 anos. E – ao contrário deste texto – é bem REAL.

quinta-feira, novembro 18, 2010

Futilidades







Nos tempos actuais, tudo aparece fácil e sou condicionado para dar prioridade à edificação como pessoa egoica ou profissionalizada; maiores investimentos ou compromisso do que “pelo menos tentei” - no aspecto emocional - são lendas do passado ou tiranias do presente; parece emergentemente necessário repensar o sentido de prioridade da minha existência como entidade.

Que o ser humano em mim não seja predado por um sistema de capital e uma nova organização social, privilegiando a funcionalidade sobre todo e qualquer valor que me permita ter sentido de estabilidade, raízes profundas ou capacidade de afirmar a negativa perante o interesse dos grupos económicos organizados.

Algo cancerígeno tomou controle das estruturas das nações, - desenvolvidas para servir o Homem - tal como todos os métodos e meios tecnológicos por este engendrados: promove-se a desagregação dos valores ou de um sentido profundo de “ser” e “estar” que pudessem barrar o crescimento desenfreado de capital.

Como um polvo de tentáculos vários, esta força nociva vai esmagando a estrutura humana desde o seu centro mais elementar - o sentido de pertença.

Outrora – no tempo dos "Afonsinhos" - pessoas e organizações possibilitaram dar equilíbrio e existência ao ser humano: como consciência tendente ao social, como ser emocional ; não apenas como instrumento mental de aplicação laboral multifacetada, de uso reciclável, de utilização intensa e limitada no tempo - como uma qualquer embalagem que se estoura na sua intensidade e depois se estaciona num qualquer contentor para que outros mais aptos tomem o seu lugar... raio de consciência humanista, raio de estrutura de estabilidade entre todas as outras da natureza que tão gravemente se critica.

Arriscar a vida por um ideal – como a família, o amor ou a estabilidade – pode ser uma boa resposta à crise de valores que ameaça com desenraizar a humanidade de todo sentido de “Norte”: que me permite opor resistência aos caprichos de consumismos e utilitarismos completamente descabidos, saídos de fantasias orgíacas em mentes fora do comum sentido de pertença ou vínculo ao valor fundamental de amar o próximo E a sí mesmo?



Erguer-se para dizer “não” nunca foi tão complexo e subtilmente velado do que na actualidade...
No domínio do complexo, a sucessão de tarefas e a pressão crónica a que nos encontramos sujeitos: debaixo da desculpa descomposta de crises económicas veladas, ameaças biológicas e naturais constantes, hostilidade perante um factor humano desconhecido a título permanente, preços de combustíveis e bens base desorbitados, sistemas de segurança social destruídos, peso de seres humanos ditos “idosos” incapazes de ser suportados por padrões de consumo e bem estar divulgados por média demasiado ambiciosos para as capacidades padrão da extrema maioria do mundo… fazem com que a resistência e resiliência perante a invasão das diversas possibilidades de compra/ venda de tempo, interesses, objectivos, compromissos profundos e até dedicação ao humano se tenha tornado insidiosamente impossível de suportar.



No domínio subtil, a humanidade se encontra progressivamente aprisionada numa jaula de cristal – com barrotes frios mas invisíveis:

- Posso comprar via “net” um telemóvel última geração e ter cinquenta affairs em simultâneo. - É possível divulgar às massas a vitória do Porto sobre o Benfica no mesmo rodapé do que um massacre qualquer numa qualquer zona da África.
- É aparentemente fácil dizer "não" a uma relação através de uma mensagem de e-mail ou sms e a agenda electrónica prediz o tempo que posso dedicar ao ser humano que – assim – se enquadra nos tempos pautados por uma rotina cada vez mais precisa e impiedosa.


E – se tudo é assim tão bom, desenvolvido e desejável - não entendo o porquê da crescente ambivalência, do cepticismo e da incapacidade para o compromisso; não entendo o paralelismo da subida do desespero (taxas de suicídio, patologias mentais várias, dependências, criminalidade)…

Se estou numa sociedade na que, cada vez mais, publicitamos a capacidade de opção, a felicidade e a liberdade como mais valias adquiridas à custa do nosso próprio esforço e sacrifício: que raio se está a passar?

 

Quem lucra com tudo isto?
De certo, o tempo desperdiçado com o IPhone poderia ter sido investido aprendendo a abraçar o ser querido.

Será que a tecnologia humana está em desaparição e teremos de pagar cursos e “workshoppings” para “aprender” a abraçar, beijar, tocar, sorrir, passear de mão dada?...

Teremos de ler em livros, revistas e terapeutas especializados, como fazer amor com a pessoa que amamos?

Que nos estão a fazer senhores dirigentes - a onde nos querem levar e que pauta marca o nosso caminhar?
Vamos terminar por “engarrafar” a vida – tal como fizemos com a água – e pagar, por re-aprender a viver com a naturalidade que sempre tivemos: pelo simples facto de existir…

"Não saberem bem o que querem e estarem à espera de algo ou alguém que vos diga melhor do que vós mesmas, para além de qualquer dúvida ou risco - sem necessidade de ir em frente para além do medo - que esse é o caminho que escolhem entre muitos outros caminhos possíveis". Cada homem é um caminho a ser descoberto e não apenas um monte de pedras empilhadas a ser pisado.