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sexta-feira, novembro 19, 2010

Era Uma Vez



- No tempo do Salazar é que era!...

Dizia ela – cabelo meio solto, canadiana em punho, olhar sereno, fixo… determinado.

- Não podíamos falar na rua, e ele bem nos disse “Eu vou tomar conta do país”… “Livro-vos da guerra mas não da fome”…

A Dona Ana, aos 20, encontrava-se baixo o “stresse” (o Eu-stresse, porque “Di” ainda não havia naquele tempo, e só começou a ser capa de revista quando a Dona Ana começou a tomar conta do Irmão acamado) da lide doméstica. 

Aos 30 sonhou… uma outra vida, projectada no tempo… tomava anti-depressivos, depois passou para ansiolíticos, fazia Psicoterapia por bloqueio sexual, tratava-se na psicóloga por questões de bulimia, tinha um affair com o professor de “body-pump” – vulgo corpo aos pulos - do ginásio que frequentava, a sua página de admiradores no “face-book” – vulgo livro de caras ao contrário -  era comentada por mais de 30 pretendentes e 80 admiradores.
Conseguia gerir o seu cargo de professora responsável pelos programas de educação sexual em meio escolar, coordenadora de curso, directora dos directores de turma e tinha tempo para acumular.

Era uma amante exímia após ter lido o “Kama-sutra” – vulgo livro do amor (amar o próximo) e ter concordado com quase todas as perspectivas da série – bem real – Sexo na Cidade.


Lera Paulo Coelho e sabia que a sua evolução espiritual estava acima de tudo – pelo que treinava nos fins-de-semana as suas técnicas de meditação (coisa moderna baseada na prática antiga de dar tempo ao importante e que levou a cultura na que se insere a ter uma taxa de emigração superior à média, por isso queremos ser todos como eles e ir parar à Índia!); participava em workshops para aumentar a auto-estima, confiança e – como adenda – promover a evolução da consciência ao nível de avatar encarnado nível 20 (bem – aqui já se confundia um pouco com o jogo do filho mais velho – World of Warkraft” – vulgo Mundo da Arte da Guerra - cuja temática acompanhava com insistente dedicação, dado que a criança ocupava 5 horas por dia no desenvolvimento do seu “char” – abreviatura para “character” – tempo mínimo exigido pelas “guilds” – associação de entidades virtuais baixo a mesma facção, cooperando para o mesmo fim. Como é evidente, este jogo é meramente didáctico – não sejam as mortes por arrancamento de cabeça que são exigidas para ter “honor kills” – vulgo, morte por honra – para que a criancinha acumule méritos que lhe permitam ter rango “respected” – vulgo “respeitado” entre as várias organizações que promovem o bem estar dentro do mundo virtual do moço que – por acaso – até tinha uma ferida infectada com tecido desvitalizado à uma semana e que – oops – a mãe viu quando o puto se coçava de forma disfarçada enquanto lutava mais uma hora no PC fixo – usurpado ao progenitor do sexo masculino arrancado a esta história por virtude do guionista da série o ver como complemento à mulher a dias que era paga para dar mais 5 horas à casa do que aquilo que devia; colocado mesmo ao lado do portátil da mãe – modelo gprs com leitura de “blu tuth” – vulgo blue tooth entre vernáculos – competindo os dois a ver quem aguentava mais horas em casa frente ao ecrã virtual, procurando finalizar os programas escolares novos até às 2 da matina enquanto o puto “limpava” mais um “boss” – vulgo patrão – de uma “dungeon” – vulgo masmorra – numa das novas zonas do seu jogo – curiosamente chamada “Novo Minho”).


Ao fim, colocando a sua nova lingerie – com fio dental até ao intestino grosso – cólon ascendente – espera que o marido responda com palavras tão ilustres como o último admirador secreto da sua página “Web” – vulgo rede – que, com galanteio e extrema delicadeza, a fez sentir como a mulher mais fascinante do mundo (entre as restantes 483 contas de página Web que o marmelo acompanha no seu tramitar de situação patológica – que para ele funciona como “catarse” – vulgo “foder” o vizinho, a mulher do vizinho ou alguém em particular em vez de foder a minha particular vida “novas aspas para evitar o segundo parêntese e esclarecer que “foder” é um termo erudito – que vem do latim “fodere” e significa “escavar” – e que não tem nada de mau se se (aqui já se repete o condicional para evidenciar a condição da conjuntura humana actual) encontrar num café um dia para tomar um copo, seduzir a tal tipa com muita fogo que o que queria era que lhe chamassem nomes “fdd” – reduccionismo para o termo anteriormente descrito – já que, com o marido – se sente tão “castrada psicologicamente” – vulgo igual ao que se fazia antigamente com os gatos, mas desta vez na cabeça das pessoas – que não conseguia manifestar plenamente a sua sensibilidade feminina e a “deusa” em cada mulher – vulgo paranóia que alguém criou num livro que depois vendeu uma carrada de livros parecidos com os homens, animais e até plantas – que têm os seus “devas” – vulgo, mais uma merdice da tal Índia - nas estantes das livrarias mais modernas).



No fundo – conseguia a proeza de deixar morrer os cactos da casa à sede, pois – óbviamente – se preocupava sobremaneira com as causas ecológicas do planeta e, até – tinha construído um texto no seu “facebook” – idem ao anteriormente descrito, mas agora sem “tracinho” – digo, ífen – sobre o abuso que as florestas amazónicas sofrem à mão dos desapiedados exploradores de madeiras virgens, que desbravam a floresta e que nada têm a ver com a cadeira último modelo que se dispunha a comprar se não tivesse comprado as botas de tacão – extremamente baratas – que vieram dar um ar de “cavaleira” – vulgo, mulher que monta um garanhão ou animal cavalar que se deixa domar após um estado crónico depressivo e que não tenha estado sujeito ao ambiente livre o tempo suficiente para saber a diferença entre o que é cavalgar em liberdade e o cavalgar com brida…



Retomando o tema – deixando a tal Brida de parte enquanto encontra o décimo-quinto mistério da essência do feminino baixo a alçada do seu Mago de Folk (nome em código para folklore – claro – “não coloco agora aspas para explicar que o “k” não existe no alfabeto português original, pelo que fica mais “chique” – vulgo cricas - mas menos entendível) – retomando o tema, a tal cadeira seria de importação (via China, logo comprada da madeira que os tais desapiedados tinham desbravado na floresta da tal Amazónia – e não a Amazona que matava gente – mas sim a outra que era fina o suficiente para aparecer nos livros da Ilíada (que ela nunca leu na Universidade, mas que lhe permitiu “sacar” – vulgo ser mais esperto do que os outros mesmo sem saber atar os atacadores - o curso mesmo assim pois as sebentas servem para tudo – sobretudo se forem virtuais)…


É claro – hoje - está com “burn out” – vulgo queimada – aos 30 anos, e – talvez – a tal Dona Ana tenha uma certa razão quando dizia:

Vi uma mulher passar na rua ontem – ia com meias (é complicado dizer “collants” pois, naqueles tempos, era tudo de lã e a França era mais de emigração que de importação) e até usava um cinto!


A Dona Ana não toma psicotrópicos… aos seus 82 anos. E – ao contrário deste texto – é bem REAL.

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