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quinta-feira, agosto 24, 2006

Words as a Sword


Palavras… dizes… palavras já há demais… palavras tenho por ti e por mim…

Tristeza… é uma palavra… que te diz?
Solidão – é uma palavra… de que fala?
Que são as palavras senão ecos de uma voz mais profunda que a mente não iguala?

Como vês – só perguntas…
Certezas nenhumas, como se navegasse – num barco sem leme nem velas, nem carta de marear… ao som das marés, à espera, da mensagem deste amplo mar…

E fico-me – nos socalcos das maresias, recantos com paredes de coral
Até que a maré venha e me reviva, e me leve para não mais voltar
E de novo vogo – sem leme, sem vela e sem rumo… de novo me deixo levar
Pelas ondas – não sou eu onda da vida? – até onde elas me queiram deixar

Só palavras… insulto nefasto.
Pois sim – se nem as palavras valem, que resta?
Imagina – se lhe contasses ao artesão – que suas mãos, não…
Que lhe dissesses ao pássaro que – asas não eram
Que lhe atirasses à cara – à Primavera – que suas flores são pouco, são nada, não chegam…

Tu queres verão e frutos… espera então e contempla
Baixo as sombras das árvores
E espera, e espera e desespera…

Sem flores – espera…

Que frutos comes – pergunto eu?
Quê de tão grande te serve, para desprezares as minhas flores humildes?

Nunca engalanei as minhas paredes com troféus de guerras ganhas… muito pelo contrário – os meus dias contam-se em batalhas perdidas…

Palavras não têm poder, têm o dom que - quem quer que as ler - lhes puder entregar
O meu poder é este – o de não poder nada… mas com orgulho.

Os meus feitos são linhas numa areia que muda, num mar com meu nome escrito
E assim me sinto humilde, pois palavras são sons que passam e que apenas revivem
Nos lábios que os descobrem, que neles reparam e com eles respiram

Não queria lavrar muito mais, muita mais vida por aqui deixar – que já chega a confusão deste sítio – cheio daqueles com ganas de mandar

E assim me esvaio de mansinho – meu sangue esfria, ficam só as ditas palavras
Nelas todo o calor doentio, nelas todo o fulgor que se espalha
Enquanto eu me esvaio como um rio, que numa planície desagua
Sem mar, sem destino – veias num chão a sangrar… mais nada, nada mais…

Sê feliz com mais que palavras – mas lembra o quanto são as palavras que te arrebatam da tua pasmaceira diária
Lembra quanto as palavras te inflamaram em sonhos de vidas a percorrer
Sente o quanto as palavras acendem a tua volúpia e o desejo por tudo o que tens dentro que nunca será tocado por mãos, pele ou feito
E – quando insultares a palavra com tua própria
Sente o quanto cospes no espelho, e depois lamenta… lamenta

Um abraço – e, Adeus
A um que só tu – e eu – veremos chegar

2 comentários:

Micas disse...

"A palavra lança-se como um barco vazio/de uma matéria frágil que palpita/e não sabe o seu rumo e no entanto vai/vogando entre sombras e nuvens

O destino è dissipar-se na página/
mas o frágil alento é a sua liberdade/e por isso vibra e flui como uma onda ou uma chama/e não mais que uma corola de ar

Ela talvez só queira ser o espaço
que vai abrindo o ignoto horizonte/porque talvez se lembre do leve paraíso/que a faz partir sem jamais poder chegar"
(António Ramos Rosa)

A tua poética é soberba, (o Adeus é só pertence ao poema, certo?)

Simbelmune disse...

Representa um "anexo" que brinca com um deixar algo atrás, um ir para "Deus" e algo que apenas quem deixa atrás o velho e abraça essencia poderá ver...