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Mariamne foi – primeira – esposa e mártir por uma causa de milénios perdida…
Sangue de esfinges - Mãe, Glaphyra
Pai com nome Selêucida e filho de reis rebeldes…
Nascido num ano antergo… anterior a mim…
De um massacre de inocentes – pai contra meu pai…
Nu nascido, logo ungido… rei
Visitado por aliados antigos…
Vaticinado como herdeiro do que lutou contra Deus
Oculto, fugido, para terras da minha mãe…
Regressei…
Abraçado pelos que esperavam mudança
Temido pelos que se investiram de poder
Dos escolásticos nada esperei… debates, análises, estudos…
Mas – entre as seitas, clãs e castas
Apenas discórdia seguiu meu nome
Marchei…
Como Novo Judas,
E Limpei – o que ímpios mancharam
Com punho de ferro entrei
Aclamado, folhas de vitória pisei…
Emulando os fados…
Retirei efígies dos deuses pagãos
Expulsei usurpadores, soldados e vendilhões…
Icei as bandeiras silenciosas do meu povo
Para que o meu povo soubesse que era eu rei…
Preparei-me…
Um vendaval da Síria se abateria
De Cesareia o fogo choveria…
Mas eu mantive-me sobre o rochedo
Sem arredar pé, sem vacilar…
Arreda Satanás – a mim não me tentas…
Os eruditos ainda debatiam…
Seus medos e ignorância remexiam…
Mais uma vez… o povo beijará teu chão…
E eu soube
Preparei um final
Mandei perguntar ao povo o que queria
Se uma vida de escravos – mas vida
Se uma morte como homens livres… na luta
Vim trazer a espada… disse eu
Mas – os que mandam nos servos - assim falaram:
“Mais vale um homem que morra pelo povo
Do que um povo morto pela espada…”
Um homem para os unir
Um homem para os entrelaçar
Um homem para a todos juntar na terra dos que se erguem
Dos que lutam e ganham seu nome
Terra de homens e não terra de réus…
Mas falou assim o conselho,
Assim quiseram os pobres:
Que tudo o que vim para unir se quebrasse
Para que os pobres e doentes assim ficassem
Meu fiel me entrega
Verdadeira Ágape, ósculo imaculado
Nas portas de muralhas vazias
Perante estandartes púrpura e efígies estranhas
Caminhamos – não vim só…
Mais quiseram não vergar…
Vejo, nos confins do horizonte
Um tempo no que eles se erguem
Eles que hesitaram,
Desta vez, já sem duvidas,
Os encaram - de frente
Essas águias que desgarram até à morte
Massada… meu espírito sobre ti…
Judas, em seus muros, suicídio em vez de escravatura…
Foste melhor do que eu…
Caminho – para o prefeito…
Caminho – para o meu fim…
Vozes de caveiras em milhares
Sacrifícios milenares
Ao deus tirano que prende o Deus em ti
Madeiros plantados no Golgotá…
Pinheiros viventes, seiva vermelha
Penhor de Morlock, geena maldita…
Olho no alto, olho no longe…
Vejo o deus da ira
Rebento de Novo, ceptro florido…
Paredes quebradas, gente estilhaçada… shekinah errante…
Grito…
…entendo o meu pranto…
…mais vale quebrar que vergar!
Brisa ao de leve…
Luz que se expande…
Esquecimento…
Contem esta história…
Digam que me entregaram
30 moedas de prata
Filósofo que – desta - pagou…
E recebeu…
Na destra
Na sinistra
Filhos de um trovão, nunca mais silenciados
Caminhamos para a eternidade…
Passado ecoando no tempo…
Tantos outros…
Subjugados…
No jugo da águia que te rasga o ventre
E consome teu poder… mestre
Gálias
Bretanhas antergas
Lusitanias
Tantos outros que não cederam…
Preferiram partir… indo livres
Asas de vento…
A ter de ficar
Presos do tempo
Eu criei a lenda
De vergar o tirano
Em tirano me tornei…