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quinta-feira, dezembro 31, 2009

Castelos de Areia


De novo no msn, com o ano que se aproxima de fundo:


muitos gajos bons
muitas coisas caras
muitas viagens
e festas
e promoções no trabalho sem fazeres pívia
muita treta sem mais nada de por meio
e tudo o que puderes ver na tv
enfim

para além dessas coisas importantes
que um passeio te traga um sorriso por veres o mundo belo
que alguém te diga algo que entendas para além das palavras
que o teu coração palpite por sentir a presença de quem desejas
e que tu não tenhas que mudar nada no que és para estares bem
tu és o que tens de ser
é o mundo o que está com problemas

terça-feira, dezembro 29, 2009

Rainbow Stone


Dizia à pouco a uma amiga no msn:

"às vezes pondero
porque gastamos tempo a dar atenção a linhas virtuais que ondulam no ecrã azul
se não nos vamos encontrar no dia de amanhã?
porque as pessoas precisam de comunicar talvez?
porque - no fundo do fundo - sabemos que somos um
e não aguentamos a consciência de estar separados...

só encontramos no nosso caminho aqueles que se encontram na nossa sintonia
os outros são invisíveis ao nosso olhar
como uma pedra atirada contra o arco íris…
para o arco íris - a pedra não é real
por isso passa pelo meio
sem o tocar"

Talvez...

sábado, dezembro 19, 2009

Os Princípios Irmãos


Nas páginas do real somos histórias por contar
No livro em branco do amanhã, promessas a cortejar

Se alçarmos a vista para além do horizonte
Não tropeçaremos nos próprios pés

És vida que se faz noite e és dia que se transmuta em manhã!

Almas que se entrecruzam, ecos da nossa voz:

Somos vida que se fez gente e gente que ruma contra a maré
Amanhã seremos mais fortes, hoje somos apenas três
E quando o dia suceda à noite e a manhã vença de vez
Entre tudo o que existe e entre aquilo que não és
Ainda verás um mundo diferente do tempo
E terás o tempo a teus pés
Se fores sujeito e fiel
Serás o que queres
Serás quem és

quarta-feira, dezembro 16, 2009

Entre as Ondas



Se entre o dia e a noite existe uma linha

É crepúsculo dos tempos e aurora a dealbar

Caminhar ao de leve, sentindo pedras no caminho

E cantar sempre mais alto para recomeçar

Querer é apaixonar-se pelo que se sente e pensa

É dar voltas no espaço e dele fazer mansão

É querer sem querer e sentir querendo

É dar-se ao mundo sem razão

The deep


All that is gold does not glitter,
Not all those who wander are lost;
The old that is strong does not wither,
Deep roots are not reached by the frost.

From the ashes a fire shall be woken,
A light from the shadows shall spring;
Renewed shall be blade that was broken:
The crownless again shall be king.

Para treinares o Inglês ;)

domingo, dezembro 13, 2009

o Toque

Era mais do que evidente… à medida que os seres se separam, a consciência profunda da sua identidade grupal diluía-se no jogo de luz e sombra do Ego.

À medida que a ciência da mente pautava regras mentais, a capacidade de ir além das aparências e de abrir portas à esperança ia-se confinando cada vez mais a um orifício minúsculo na parede prateada dos sonhos.

Então, Annael mensageiro, ergueu-se contra as linhas que pautavam o visível e abriu as portas ao mundo que podia ser e que ainda não existia.

Neste mundo, veio a sombra e a luz sem par.

Veio o medo e a esperança.

O sonho de Annael era que as pontes que uniam mundos se fizessem mais fortes do que as paredes que os separam.

A sua voz ecoa desde as profundezas, e continua a entoar a sua melodia mansa e clara, por entre o turbilhão de vozes enraivecidas que compõem o inframundo.

Talvez algum dia se ouça o seu canto e se abrace a sua queda…

sábado, dezembro 12, 2009

Ecoando


Havia uma ponte que ligava dois mundos. Num deles o Sol brilhava e o dia era pleno. No outro havia uma Lua velada e as sombras dançavam, etéreas…

Em cada momento que uma sombra se elevava, um pássaro no mundo vivo cantava. Em cada sorriso que uma criança esboçava no mundo de luz uma flor de esperança desabrochava no mundo da sombra.

Os dois mundos tinham uma ponte, e esta estava escondida entre as sombras dos arbustos que limitavam as paredes de um céu azul turquesa pintado para ser assim.

E havia lugares onde as sombras dançavam para que os mundos se mantivessem fechados e não pudessem haver confusões sem que houvesse vontade verdadeira para os unir.

No meio deste eco, espero que ouças as sombras dançar para que saibas que o teu sol é pleno.
No mundo das almas, quando um dá, o outro recebe. E se um se entrega, o outro renasce.

Um abraço para ti que lês :)

Templos


Se pensarmos acerca do mundo, das coisas, da vida – vamos encontrar sempre as mesmas barreiras e limites colocados no entramado mental, para que este seja circunscrito – que a lógica é circular, que a mente não tem respostas e que o ser humano é muito mais abrangente e complexo do que o topo aparente da sua pirâmide.

Se sentimos o que somos, então ligamo-nos aos outros, às coisas, à natureza, ao pôr de sol, à música, ao ser amado e à vida de uma forma irreversível mas plena – é compreender “desde dentro” aquilo que se observa desde fora.

Adorar é prestar culto ao invisível e torná-lo manifesto no dia a dia. É cultivar um templo vazio de imagens e sons para que este esteja sempre cheio do que é importante.

No fundo, pode definir-se a plenitude pelo seu oposto, e pode encontrar-se o sentido pelo que se desconhece.

Mas, o importante, sente-se em falta e costuma ser invisível ao olhar – como diria uma certa raposa.

O importante é amar. E isto é uma ciência que a ciência ainda não descobriu.

sábado, dezembro 05, 2009

Este Ano

Este ano, sei que estou ligado a pessoas que têm dado tudo o que têm para dar para que eu exista, viva e respire – para que seja quem sou. Sem Amor, não existimos.

O mundo está cheio de amor, e sabemos que é verdade quando somos nós quem está agarrado à vida por ele. São as pessoas, e o mundo que trazem dentro, que fazem com que valha a pena despertar de manhã. É essa irmandade invisível que nos mantém vivos.

Ao contrário do que possa parecer, o amor é imenso e é mais forte – ou não estariam estas linhas a gravitar no teu espaço virtual.


Ao contrário do que possa parecer, e por muito enigmático que resulte, é o Amor que governa este mundo. O caos tem é um marketing mais agressivo.



Este ano espero que algo bom daquilo que sou possa tocar as pessoas que apostam diariamente tanto naquilo que entregam.

quinta-feira, dezembro 03, 2009

Pequenas coisas para mudar o mundo

Um sorriso quando alguém chora, ou um silêncio quando alguém quer falar…

Um copo de água numa sala de urgência ou amparar o golpe quando o mundo quer atacar…

No fundo, fazer algo de poesia sem palavras entre o barulho do real

E fazer ouvir um canto de criança entre o ruído Infernal

Quem sabe, um dia, esse canto ecoe mais forte do que os muros que nos querem separar

Quem sabe uma memória favorável, num tempo incerto, traga luz onde a treva quer imperar?...

quarta-feira, dezembro 02, 2009

La Vita é Bela

O Barco parecia não aguentar o temporal. Por todos os meios, os homens procuravam segurar as velas, mantendo-as firmes, ainda que a qualquer momento poderiam rachar…
Quando os passageiros subiram ao convés, não entenderam como podia ter acontecido o milagre… Deus havia-os poupado e as suas preces foram ouvidas pela Dama Imaculada.

Os botes salva-vidas haviam desaparecido. As velas nem sequer haviam sido recolhidas pendendo ao vento, desgarradas.

A embarcação havia rumado milagrosamente até à costa, e ai se tinha mantido - varada, até que raios de sol matutino haviam acariciado as madeiras húmidas, fazendo o vapor subir em Espirais…

João corava de vergonha. Sentia a falta do seu pai – marinheiro neste barco… como podia ter sido abandonado, como podia ter sido deixado à deriva sem explicação?

A raiva e a revolta fizeram de João um soldado da paz. Com a sua divisa azul imaculada, levava palavras sábias a todos aqueles que queriam ouvir…

Entregava-se à causa e dava tudo o que tinha por fazer deste mundo um lugar mais justo e de maior valor…

Lutou contra aqueles que eram bribões, que davam mau nome à terra onde nascera e de onde partira cedo…

Um dia, passeando perto do Mar, viu um Madeiro flutuando à deriva.

Nunca soube explicar a razão pela qual o fizera, mas mergulhou em pleno inverno entre águas salgadas.

Retirou o madeiro e lá viu um nome gravado – albatroz…

O nome iluminou sua mente.

Compreendeu e aceitou.

Passou os seus dias caminhando entre as gentes, sorrindo para os desconhecidos, falando pausadamente e olhando de relance.

Um dia, talvez um dia, o visse novamente e lhe pudesse dizer o quanto o amava.

Um dia…

quinta-feira, novembro 26, 2009

Ar

Adaga de gelo no coração da sombra, melodia de criança entre o ruído do mundo…

A força da criatividade não se mede – sente-se…

A cada golpe da vida deixamos o nosso cunho na essência do vazio.

Cada folha que cai deixa a promessa de um renascer, cada fruto que esmorece traz em si a semente da nova vida.

Em vez de perder – renovar…

Na neblina há um sino que toca... não estamos sós.

J.S. Bach - Ar

quarta-feira, novembro 25, 2009

Dancer



Há um tempo no que o abraço faz pontes, no que o caminhar lado a lado faz presença.

Há um tempo para sentir cristalinamente a face do outro lado do espelho, para sorrir e saber-se neste mundo com um sentido – ainda que velado nas entrelinhas…

Há um momento para deixar as armas do guerreiro e sentir que é hora de ser o mago, de seguir a dama de sombra que suspira palavras no ouvido da alma e com elas fazer arte e dar vida…

A aspiração à plenitude é um caminho, e cada gesto é um passo na sua consecução.

Antes dançávamos na orla da ilha para acalmar as águas. Dançávamos para entrar em sintonia com o caos e nele depositar a nossa harmonia, a nossa arte.

Despertem as dormentes.
O canto já se ouve, é momento de dançar…

Até breve!

terça-feira, novembro 24, 2009

Do Sol e da Lua


Entre o ruído do diário, a sintonia dos seres que se tocam no invisível é a mais intensa.

Existe a vontade de ir mais longe, de se sentir mais fundo, de ser mais verdadeiro do que a realidade do “eu”.

Há um poço que tem origens profundas na terra, e do qual as nossas águas bebem.

Entre o ser e o estar existe o reconhecer.

Caminha-se lado a lado para além da distância e do tempo; para além do labirinto que a mente tece...
E os olhos da verdade não se enganam… nem enganam.

Até breve!

sábado, novembro 21, 2009

Inner Strength

A imagem estava clara. Havia um holograma, um plano fino e fiel. Dai toda a precisão.

A força vinha do íntimo, da natureza do ser criado. A coragem que inflamasse a filigrana escrita e lhe desse forma presente no mundo “real”.

No fundo, o real era antes e é agora. A promessa e aquilo que se cumpre.

A Consciência Universal dá a mão, cabe a cada um estender a sua da forma como sabe e sente.

The Tao of Kung-Fu

Até Breve!

segunda-feira, novembro 16, 2009

Um abraço de ida e volta


Quando o sorriso se faz dança e a dança abraço. Quando se vê para além da aparência e daquilo que separa, encontramos no outro o ser irmão que connosco caminha pelas veredas da existência.

Quando a energia une e não se para, quando o fluir é como um rio manso que caminha para seu mar... então a vida é deleite, paz e encontro…

Reiki, uma forma de encontro, de olhar o outro e ver o que se encontra para além da aparência.

No fundo, uma forma de nos olhar a nós mesmos e de servir. Cada qual se oferece, para ser canal. Disponibiliza-se para se deixar embalar pelo amor que une, por aquilo que é universal.

O resto é um caminho de encontro e uma vontade de ajudar.

Um abraço Universal

quinta-feira, novembro 05, 2009

Tecer


Há um lugar onde tecemos os nossos sonhos, de onde flui a nossa magia pessoal… esse lugar é o que chamamos de coração – o centro onde o céu e a terra se juntam. Toda a verdade e todo o valor encontram-se ai. O poder e a mente são as portas por onde começamos a caminhar até chegar aos portões dourados onde se entretecem as histórias, o lugar onde o ontem e o amanhã se fazem hoje…

Há uma arte e ciência que é a de transformar a força vital em coisas. Podem ser pensamentos em obras, sonhos em palavras, habilidades em serviço. Essa é a arte que se pode ir treinando para se transformar este lugar num lugar melhor – mais do que num mundo de olho por olho (onde toda a gente seria cega, como dizia Mahatma Gandhi) – um lugar onde a consciência se eleve acima das agressões da vida diária e a nossa originalidade opere, transformando o insulto em sorriso, o acto cruel em obra benéfica, o sofredor em ser consciente. Apontar para a meta de ser tecedor de realidades… escolhendo o padrão que se pretende gerar.

Entre o negro e o branco há uma delicada linha que marca o equilíbrio. Apontem para ela os pecadores e os justos. Como dizia alguém, o caminho pode ser mais ou menos tortuoso, com maior ou menor declive – escolham… a vista lá de cima é a mesma para todos.

Até amanhã!

segunda-feira, novembro 02, 2009

Bicicletas e caminhantes


É curioso pensar nas combinações possíveis que a realidade pode tomar, uma vez que as nossas opções a colocam em movimento. Pode-se pensar que o caos e o erro trazem consigo mais caos e erros mais severos – ainda que é nestas situações que se pondera seriamente acerca das nossas opções e atitudes e se pensa em alterar comportamentos.

O caos oferece sempre a opção de se alterar o rumo dos passos que tomamos e uma oportunidade de avaliar a nossa conduta e descobrir as verdadeiras motivações que a regem.

Por outro lado, a ordem e o fluir encadeado de opções correctas, podem levar ao “adormecimento” da consciência das coisas e do próprio. Um adormecimento tal que submerja o indivíduo num estado no que se sinta estar tudo está a fluir conforme tem de fluir…

Quando uma vicissitude de maior porte aparece no caminho, então desperta-se do estado onírico e depara-se com uma realidade algo diferente daquela que se sentia viver.

É algo assim como andar de bicicleta nos primeiros tempos nos que se aprende a pedalar. Se adormecemos no encanto da viagem, o velocípede embala sem que haja grande esforço, mas basta o primeiro pensamento que nos transporte à realidade do medo para que o equilíbrio se rompa e o ciclista caia da sua trajectória recta e harmoniosa.

Alguns já sabem pedalar, já ultrapassaram os primeiros medos e conseguem corrigir em viagem, mesmo quando as dificuldades parecem muitas. Outros simplesmente caem e não levantam ou perdem embalamento e terminam por ficar cada vez mais incipientes, cada vez mais deslocados… até terminar por cair… ou ganhar novas forças e novo ânimo para voltar a pedalar com o vigor necessário; acelerar o seu veículo, sem o fazer tombar para o lado com a falta de perícia das primeiras pedaladas de maior força do que saber.

Nos tempos que correm, o medo é regra geral. Esperemos que se saiba pedalar com arte e graça, sem perder o centro nem a noção de Norte, sem cair no desespero, sem tombar.

No fundo, cada passo na vida, representa a arte da alternância - deixar o seguro para uma situação nova de instabilidade… e voltar a pousar o pé e sentir-se seguro… até se ter de levantar o outro pé novamente.

Força! (com precisão)

domingo, novembro 01, 2009

Simpatias

Ao longo da existência, vamos tomando consciência da plasticidade do nosso ser. Em especial, de afinidades – como se fôssemos tons musicais entrando em sintonia.

É dentro desta visão que enquadro a “simpatia”.

Tenho reparado que muitas pessoas entram em sintonia com o estado de saúde ou doença de outras – tenho notado como a ansiedade de uma mãe na sala de espera se “contagia” à equipa de saúde que atende a criança, se esta não estiver consciente de focalizar a função que se executa; tenho notado como uma pessoa em depressão atrai para o seu baixo nível de vibração o interlocutor incauto. Tenho notado como pessoas com alterações respiratórias, como a bronquite ou asma em fase aguda, atraem por simpatia pessoas em seu redor para que fiquem com sintomas semelhantes.

É que a mente funciona como um espelho dos estímulos sensoriais e, ao captar impulsos emanados do “exterior”, evoca esses impulsos no nosso interior, tornando-os tão reais como se fossem gerados por nós mesmos. Há pessoas com maior capacidade para evocar imagens de outras fontes e as reconfigurar no seu interior. Este caminho tem dois sentidos e pode ser usado no sentido ascendente ou descendente...

Ao longo do tempo, creio que até doenças mais crónicas, podem ser causadas por “simpatia”. A consciência modelou-se à imagem da patologia que gerou em determinado momento ou à influência sobre a que esteve durante determinado tempo e com determinada intensidade. A miséria, o abandono poderiam caber aqui…

Por outro lado, também tenho notado que a “simpatia” gera em nós as características dos ícones ou personagens que pretendemos imitar. Isto funciona actualmente com os estereótipos sociais – como o belo, o forte, o atractivo, o poderoso – e funciona com os ícones espirituais que nos têm sido sugeridos. Funciona com os modelos que definimos para o nosso caminho e funciona com aqueles que – mesmo inadvertidamente – se transformaram de uma forma ou doutra em modelos para nós: por isso a importância das companhias que escolhemos ou dos papéis de autoridade e da forma como desempenham as suas funções.

As simpatias vão mais além de meras “tendências” para com alguém ou alguma ideologia. São tão estranhas como a modelagem das caras de pessoas que se amam, e que ao fim de alguns anos desenvolvem características faciais semelhantes.

As simpatias são como cruzamentos de onda no entramado do “real” – cabe-nos a nós tomar consciência delas e começar a ser artífices despertos das mil e uma formas de as combinar: para o bem-estar da humanidade, para o enriquecimento próprio e daqueles que nos acompanham nesta peregrinação no caminho chamado “vida”.

Até breve!

quarta-feira, outubro 21, 2009

Da Répública de Platão à História Interminável


A ideia tem uma nível de perfeição incomparável…



O artista, quando idealiza, antevê uma obra. Com o seu esforço, dedicação, fé no resultado e o efeito do tempo, consegue transformar a matéria em algo novo, vivo… uniu o mundo ideal ao mundo factual. Criou uma ponte…




Como uma simples mesa, que o carpinteiro amou desde a ideia, passando pelo delinear do projecto, a selecção das madeiras, a aplicação da ferramenta… o artista ama a obra sem preterir a ideia - fácil de amar; à madeira - aparentemente tosca e requerendo entrega.




Miguel Ângelo dizia, que num bloco de pedra, ele devia intuir qual a obra latente, em espera da sua arte para ser descortinada.




A harmonia é, no fundo, o encontro balanceado entre o mundo de vibração subtil - o "céu" - e o mundo de vibração pesada - a "terra". Ambos se encontram pela obra do artista.




Alguém radicalizou o conceito, tomou Platão de forma tendenciosa – quase que Maniqueísta – e acusou a Madeira de ser o mal - de ser imperfeita. Atribuiu à ideia e ao projecto o título de "bem" ou perfeição. Confie-se na arte do artista para transformar – pelo seu trabalho meritório – a matéria prima em obra de arte.



Talvez as maiores verdades do mundo estejam estampadas nos livros para crianças, enquanto todos os outros contenham bastantes imprecisões…


terça-feira, outubro 06, 2009

Espelhos


a beleza que sentimos é um reflexo do nosso mundo interior;
se a vemos lá fora é uma questão de a amimalhar
de a cultivar
para que o que somos dentro se pareça mais a aquilo que vivemos fora...

terça-feira, setembro 29, 2009

Caminhos


...há caminhos no coração
que a razão desconhece;
cada pessoa - é um caminho,
e todos os caminhos levam ao mesmo sítio:
o centro de nós mesmos;
todos somos companheiros de caminhada,
ainda que cada um de nós tem as suas opções a tomar

quinta-feira, setembro 17, 2009

Trabalhos


Disseram-nos que vivemos para trabalhar
mas, de facto, trabalhamos para viver...
São duas coisas bem diferentes, não achas?...

terça-feira, setembro 15, 2009

Coragem


ainda bem que existe gente como tu,
se não passávamos a vida a falar prás paredes
ou a dizer totices só para que os outros anuíssem a falta de coragem
para ser nós mesmos...

sexta-feira, setembro 11, 2009

Fênix

...é para isso que estamos aqui
para inflamar a nossa chama,
para descobrir quem somos realmente e pintar o mundo com a nossa verdadeira cor;
para dar o canto do cisne
e renascer das cinzas, como a fênix, em cada vez que nos inflamamos ao dar tudo o que somos
Carpe Diem!

segunda-feira, setembro 07, 2009

O Alimento da Alma


Quando colocas o coração naquilo que fazes
É aquilo que fazes que te alimenta
A magia acontece
E recebes mais do que dás

É assim que Lavoisier se engana...
...é assim que a Causa deste mundo esconde dos letrados os seus segredos

quarta-feira, setembro 02, 2009

A Força da Vida


Gosto de intimidade...
Essa força que une homens e mulheres...
A força da atracção que é a força da vida!

Aprender a amá-la e cultivá-la é saudável e necessário...

sexta-feira, agosto 28, 2009

O Jardim de Espelhos




Procuro plantar sementes de esperança, mas sempre que olho no jardim dos outros, já encontro montes delas lá, à espera de germinar - dá-lhes atenção, rega-as, ilumina-as com devoção - sobretudo, diz-lhe ao dono do campo o belo que já é o seu jardim...

Não há grandes segredos no Kung-Fu - apenas a arte de fazer com que o aluno descubra, pelo seu mérito e esforço, o seu verdadeiro valor...

sábado, agosto 01, 2009

Feel the rain on you skin



Diz um antigo provérbio que, no íntimo do ser humano, habitam dois lobos. Um bom e um mau.

Qual será o mais forte, poderia o leitor perguntar… pois será aquele que você alimentar mais!…

Se pensar bem no assunto, quantas vezes ao dia o seu discurso é orientado para coisas que baixam o seu estado anímico? Quantas vezes os seus pensamentos são mais destrutivos do que construtivos?

Quantas vezes alimenta conscientemente o seu ser com pensamentos positivos, com afirmações de alegria, esperança, ânimo?... Quantas vezes utiliza conscientemente músicas ou frases pela positiva, afirmando o seu potencial, a sua capacidade, a sua sorte, o seu bem-estar?

Pense nisto, conheça-se! Ganhe consciência das suas frases, das sensações que tem quando olha as pessoas… e depois procure aperfeiçoar a arte de, conscientemente, substituir as expressões e pensamentos destrutivos por outros que lhe tragam esperança, alegria, optimismo…

Condicionar-se é algo que todos podemos fazer. Força!

Fica uma música, versão meio "tuga", para potencializar estados anímicos positivos ;-)

"Unwritten" - Natasha Bedingfield (versão Mia Rose)

segunda-feira, julho 27, 2009

Don't give up

Este mundo responde a cada pessoa consoante o seu condicionamento pessoal. Se conseguimos estabelecer objectivos bem definidos e temos clara a nossa intenção de os conseguir, é questão de tempo e perseverança até os concretizar.

O que normalmente acontece é que a maioria se deixou condicionar por pensamentos e valores limitativos, que fizeram com que vissem a realidade de uma forma restritiva.

Muitos foram educados na dor e procuram experiências e pessoas que lhes tragam esse mesmo condicionamento uma e outra vez… o cérebro não tem sentido de humor, pelo que apenas reproduz aquilo para que foi condicionado. As substâncias libertadas pelo organismo em determinadas situações terminam por “viciar” as células, o que promove um círculo vicioso cada vez mais intenso, que leva à somatização de sensações ora ligadas à dor, ora ligadas ao prazer.

O processo de tomar consciência dos nossos estados anímicos e os condicionar em nosso benefício é uma tarefa necessária ao despertar para uma vida mais plena.

Até lá, aqui ficam umas mensagens de esperança.

Um abraço e até breve!

Josh Groban - "You Are Loved"

e

Peter Gabriel e Kate Bush - "Don't Give Up"

terça-feira, junho 23, 2009

Lázaro

O homem tinha ressuscitado. Literalmente havia regressado do mundo daqueles que já não recordam o seu nome, e dos quais já quase ninguém se recorda.
Suas carnes haviam sido atacadas pelo vento da degenerescência, seus membros haviam começado a mirrar. Os familiares disputaram suas posses - como se de legionários romanos ao pé da cruz se tratasse... no meio do jogo de dados que empurrava o despojo de homem para cá e além, uma mulher havia-se mantido ao pé dele, e ele voltara...

Primeiro foram as úlceras de pressão que começaram a sarar. Quase que estivera no limiar de amputar a perna, ambos os calcâneos completamente desgastados por uma guerra que durara meses. Lentamente começou a recuperar. A mulher não arredara pé. Dormia todos os dias no sofá ao lado da cama articulada que ele ocupava. Sempre alerta, como uma loba guardando suas crias...
Os familiares que lhe pagavam num início, talvez não contassem com a sua perseverança nem com a espectacular recuperação do senhor José. O facto é que, mesmo sem cobrar durante meses, ela se mantivera com ele; mesmo já quando nem falava, estando para além das esperanças, ele regressara um dia, começara a falar connosco e até já gracejava e sorria.

Estes milagres são raros nos cuidados a dependentes crónicos já com 92 anos, como o senhor José. São uma pérola entre os porcos e pouco ou nada se pode fazer senão sorrir e admirar-se por estas jogadas do destino.

O dia começava e eu levava uma colega do curso de especialidade e que tinha seleccionado o senhor José como alvo de reabilitação. No espaço de três ou quatro sessões víamos como ele se penteava, se olhava já vaidoso no espelho – olhos azuis iluminados por uma graça que devia ter em abundância quando era mais novo.
Este dia, no entanto, era de despedida; a colega vinha dizer adeus - seu estágio terminava e ela despedia-se do milagre que tínhamos contemplado nas últimas semanas.

“Hoje fomos de cadeira de rodas passear pela rua aqui ao lado” diz a dona Natercia, feliz pela cara iluminada que o Sr. José esboça.
“É verdade Sr. José? Hoje saiu e passeou lá por fora?”, ele sorri com olhar matreiro, como se comentasse em silêncio o quanto de vida ainda lhe vai na alma e o quanto ainda tem para revelar...
“Muito bem!” dizemos nós - com o nosso tom maternal de costume: como se os utentes fossem os nossos filhos adoptivos e nós estivéssemos a celebrar os seus feitos, assim como os de crianças nos seus primeiros passos...

“Fui, fui...” Seu olhar parece vago, como que revivendo os momentos que pouco tempo antes estivera a saborear... e é que a memória destas gentes fica tão imediata ou tão ligada ao passado que todo o tempo de periferia, a distância de um dia ou de um mês, parece completamente apagado do seu registo... a mente humana tem destes milagres ou mistérios...

Mas havia alguma tristeza por onde deveria haver júbilo.
“Que foi Sr. José, não gostou do passeio?”
“Não é isso, é que vi os meus campos...”
“E não gostou de ver a sua terra?”
“Gostei... mas toda a vida a trabalhar para agora a ver assim... ao baldio”.

Ficamos em silêncio...acompanhávamos o seu olhar mergulhando na sua nostalgia. Compreendemos o que queria dizer, o quanto o tempo passado e as tradições, o esforço daqueles que nos precederam, haviam ficado ao abandono. O quanto deixamos atrás um certo Portugal que os nossos avôs criaram e moldaram a pulso; o quanto passamos pelos baldios e já nem sequer percebemos a perda que isto implica para uma terra habituada ao trabalho do homem. Nós, que nos movemos por estradas informáticas e imagens digitais, esquecemos completamente o legado dos nossos ancestrais. Como o Sr. José, ficamos sem memória mediata, apenas ligando ao imediatismo e às histórias que vêm de um passado remoto – como as lendas e as histórias para crianças...

Sr. José, a sua história ficará nestas linhas virtuais, ainda que o seu trabalho fique soterrado pela sucessão das eras, pelo natural devir das gerações, pelas primaveras novas que vêm cobrir as memórias do verão de vidas passadas... ficarão apenas as lendas para as gerações vindouras, pois já nem sequer terão idosos para contar histórias à luz da lareira. Ou isso, ou todos os idosos abandonados aqui e além, despertem talvez um dia e, como o Sr José, nos deixem meditabundos acerca das causas e curvas da vida...

sábado, junho 13, 2009

Sorrir... simplesmente

Com tanta gente a querer vender tantos sustos e sensacionalismo, resulta espantoso que ainda consigamos rir com as coisas simples… bem haja a todos os sorrisos de um dia coroado com um sorriso para alguém querido; ou simplesmente um sorriso para a vida… o seu sorriso vale mais do que mil palavras da TV – acredite!

terça-feira, junho 09, 2009

Ecrãs de Realidade

Nos tempos que correm, o tempo que escorre em frente a ecrãs é grande. Seja o ecrã de T.V, o ecrã do monitor do nosso P.C…

Se se pensar no tempo que se passa em frente ao monitor durante o horário de trabalho e se unir ao tempo de ecrã em ambiente doméstico começamos a ver que os rostos humanos que outrora povoavam o nosso mundo estão a ser substituídos por vidro e tft em velocidades superiores à da percepção ordinária.

Talvez seja digno de preocupação o quanto certos apelos dos média, certas técnicas de marketing nos conseguem polarizar na execução de tarefas lúdicas que nada acrescentam ao nosso cadastro como seres humanos.

Nesta “nova era” ainda não alcançamos a almejada liberdade; parece mais que caminhamos para penetrar num qualquer programa de T.V no qual vivamos um “reality show” constante, estilo o filme “The Truman Show”… quem sabe?

Awareness II



Existe a consciência inicial e primária de elementos exteriores ao ser que observa e depois existe a consciência da “similitude de níveis vibratórios” ou da “atracção entre semelhantes”.

À medida que se vão acumulando experiências de vida e desvios através das opções realizadas vamos tomando consciência da atracção de semelhantes e da existência de padrões de atracção entre estados de consciência organizados e harmoniosos ou desorganizados e caóticos.

Se algo “corre mal” e o indivíduo não utiliza o seu poder de interpretar o real e reconstruir a realidade através das suas opções, então entra-se facilmente numa sucessão de escolhas cada vez mais difíceis e infelizes em termos de resultados. Pessoas no mesmo nível de desorganização vão entrando no nosso campo existêncial assim como situações que se reforçam e reconstroem a nossa concepção do mundo, dos outros e do “self”, numa direcção tendente ao declínio.

Digamos que nos associamos a pessoas ou situações que “encaixem” ou nas quais “encaixemos” com o nosso estado anímico, nível consciente ou situação espiritual. Este estado “vibratório” funciona como se por vezes estivéssemos mais perto da escala de “agudos” e outras da escala de “graves” na partitura da existência – sendo parte da harmonia ou da dissonància - consoante os acordes em que nos integremos no momento. Em determinada circunstância podemos estar em vibração “agudo” dentro de um acorde agudo e este estando em harmonia com a restante peça existèncial ou podemos estar desconexos dessa harmonia junto com outras pessoas ou situações que se encontram fora da matriz de harmonia que nos corresponde.

Os níveis de consciência atingem-se pelo pleno exercício da escolha consciente; logo, quanta mais sabedoria atinge o ser humano mais exigente é o nível de escolha que lhe é próprio, tendo como preço a sua inclusão ou não em estados vibratórios de harmonia crescente. Há certos padrões que implicam um esforço cada vez menor para se atingir certos estados de harmonia e inclusão crescente. É como se as situações se reforçassem umas às outras e aumentamos a velocidade de avanço de tal forma que os passos se tornam cada vez mais fáceis – procure pedalar uma bicicleta em velocidade reduzida e depois comece a embalar o velocípede até atingir uma velocidade de cruzeiro que possibilite o concentrar-se mais no ambiente envolvente e menos na tarefa de pedalar; assim aconteceria com a própria vida.

Sem que façamos muito, as nossas opções nos levam aos acontecimentos “certos”, no momento “certo”, encontrando-se as pessoas e situações ideais para o contínuo caminhar nesta existência; Carl Jung chamaria a estas coincidências ou a esta “perspectiva mágica” da vivência, com o termo “sincronismos”. Estamos alinhados com o nosso projecto interno, vibramos de acordo com o padrão ou acorde existencial que mais se aproxima da “excelência” das nossas qualidades intrínsecas. Estaríamos assim mais perto do nosso “centro”, do pleno potencial que materializa a nossa razão de ser neste plano de existência. Este conceito denomina-se “santidade” em termos cristãos e o seu oposto seria o “pecar” ou – literalmente – “falhar o centro”.

segunda-feira, junho 08, 2009

Awareness I


As duas consciências haviam-se fundido numa só. Ambos os praticantes deixavam de ser autores dos seus movimentos para serem espectadores de uma dança a dois. O movimento de um era o movimento do outro. Sem intenção, apenas ser...

Uma das portas pela que penetrei na descoberta do universo da consciência foi através da prática das artes marciais. Existem outras, como a da natureza e dimensões da oração sincera.

Existem mundos infindáveis na descoberta da natureza da consciência. Cada um descobre a sua “porta” para um mundo onde se vai aprendendo acerca dos diversos níveis de atenção consciente.

Existe o nível mais básico – que é meramente reactivo a estímulos – e níveis mais elevados de recriação da realidade. A reactividade implica andar “atrás” dos acontecimentos, ser “vítima” das circunstancias ou, pura e simplesmente, não ter um roteiro de vida que permita ir recriando a realidade de forma a transformar o nosso caminho para a(s) meta(s) almejada(s).
O ser humano “proactivo” ou “recriador” de realidade, crê. Este ser sabe haver um sentido para a existência, sabe das leis que regem esse sentido e as utiliza de maneira consciente para caminhar completando a promessa do seu devir. Este ser, mais do que ler acerca do seu destino, vai escrevendo as linhas do seu próprio filme existencial.

Existem limites para este acto recreativo. De facto, o fim último estará para sempre velado da nossa consciència terrena. Assim se garante a consciência de um sentido mais vasto nos vários “pequenos sentidos” que vamos recriando no nosso caminhar pelo mundo. Como que caminhando por etapas numa qualquer viagem pedestre apenas reconhecendo os objectivos do dia e ignorando onde precisamente nos levará o roteiro escolhido.

Outra coisa, é que esta “lei” não oferece garantias absolutas. Assim se garante que seja a confiança e fé no próprio sentido da existência que gere o caminho a seguir. Assim se garante que a consciência humana não se “endeuse” e se creia dona de um sistema do qual é apenas parte integrante. Assim se garante que o ser humano possa ser sempre “surpreendido” pelo mundo no qual a sua consciência se encontra entre tecida e que a viagem pela vida possa continuar a ser enigmática, fascinante e ao mesmo tempo surpreendente.

O oposto do que aqui se referiu também é correcto, sendo que a ausência de embelezamento e sentido para a vivência progride para níveis cada vez mais distantes e despojados de rumo ou fascínio, sendo que o viajante vai sendo empurrado para níveis de consciència mais frios, desorganizados e bizarros (o termo em física para esta tendência seria de “entropia”); atinge-se assim estados de miséria existêncial, de loucura ou sofrimento psicológico constante, de ausência de esperança para o amanhã. Em termos cristãos, estaríamos a falar da ausência de um sentido para a vida, de integração ou pertença a algo maior do que nós mesmos ou de “ausência de Deus”, isto é – do Inferno.

terça-feira, junho 02, 2009

... de Regresso


É curioso como se processa a vida, as maneiras como se manifesta, interrompendo os nossos cálculos bem elaborados, os planos traçados acerca da sua forma, extensão e términus.

No ambulatório era um dia como outro qualquer. Saúde de adultos, sorrir para as caras costumeiras, orientar umas consultas de cardiovascular ou diabéticos, realizar alguma que outra marcação de consulta em planeamento familiar...

O Homem entrara célere, rosto algo assustado, mão meio encharcada em sangue. Pensei que se tinha enganado e em vez de recorrer ao serviço de urgência, tinha entrado pelo corredor, perdido no meio das pessoas que aguardavam vez.

O pedido de ajuda esclarecia tudo. A sua mulher estava lá fora no carro e, com sete meses de gravidez, esperava a saída do rebento para um mundo em bulição.

Resulta complicado o adivinhar a razão de ser para um ser humano abandonar a paz e tranquilidade do espaço uterino e enveredar pelos caminhos deste lado do espelho. A saída forçada traz a consciência para um Universo que a não acolhe com boas maneiras; o caminhante precoce, em seus primeiros passos entres dias e noites, terá de sofrer antes de ser afagado pelo abraço terno dos braços maternos.

A esposa, jovem como ele, encontrava-se no carro. Respirando com alguma rapidez, pés apoiados no “tablier”, pernas afastadas em posição habitual para quem passa numa qualquer maternidade.
A menina, que depois se chamaria Teresa, decidira furar os cálculos dos pais em férias, arribando mais cedo às praias populadas de gente neste mundo bizarro.

Todas as semanas passam recém nascidos pelo nosso serviço. É sempre bom pegar neles ao colo e sentir a paz e serenidade que irradiam. Depois vem a inocência de se contemplar um mundo novo e mágico, em constante mudança e a alegria contagiante que as crianças, nos seus primeiros anos de vida, vão lembrando aos que por cá andamos à algumas Primaveras. Por isso penso, que a consciência vem de algum lugar mágico e sereno, onde a alegria é ubíqua e a paz impera. Quando voltamos a esse lugar mágico, vamos ficando novamente crianças, depois bebés de colo. A consciência mergulha novamente no sono subtil de onde viera e a serpente morde a sua cauda num novo devir.

O pai conduzira com uma mão, a outra apoiada na cabeça da filha enquanto esta procurava entrar, ao som das ondas uterinas, num mundo cheio de luz.

Apenas houve tempo. O Centro de Saúde em peso viera cá fora contemplar o milagre, como pastores num qualquer presépio de Natal. Alguns de nós trouxeram lençóis e, como se de uma peça de teatro se tratasse, cobrimos com um biombo a sala de partos improvisada. Duas médicas e mais uma enfermeira ficaram dentro do carro, ajudando o parto. O pai, do outro lado da cortina, andava de um lado para o outro enquanto o povo expectava a chegada da nova vida... O berro não se fez tardar, a Teresa veio à Luz de forma plácida, sua mãe oferecendo com calma o fruto do seu ventre.

O parto não é um momento lá muito belo. Nele se confundem sangue, secreções, força e dor. Uns e outros empurrando a nova vida para fora do sepulcro vivente. O grito de triunfo da vida sobre o silêncio apenas é eclipsado pelo silêncio do primeiro olhar entre mãe e recém nascido.

Silêncio cúmplice numa relação íntima como não há outra, vida com uma vida no seu interior. Magia e embelezamento do primeiro olhar da Teresa para a mãe envolvendo tudo e todos neste momento auge.

A Teresa foi depois até Viana, onde os exames demonstravam que tudo correra pelo melhor. Um mês depois, fora o pai que a trouxera novamente em braços, para nos mostrar o linda que a cachopa era e o quanto estavam os pais agradecidos à equipa do Centro.

Fora um parto bizarro, dentro de um carro e à porta do centro de saúde. Fora um momento belo, no que a vida nos dera mais uma lição acerca do quanto ainda desconhecemos sobre a sua forma de ser e do quanto temos que aprender enquanto caminhamos nos dias e noites deste mundo.

Entretanto, a Teresa já deve ter nove anos, já deve falar e gracejar com a história do seu nascimento. E é que a sucessão de uns pelos outros é lei e nós apenas podemos olhar e sorrir; as folhas vão sendo substituídas por outras, na árvore de uma vida que não revelou ainda todos os seus mistérios.

segunda-feira, junho 01, 2009

Passagem

Era início de tarde, um início de tarde como qualquer outro. Logo depois do almoço estávamos a fazer visita de Enfermagem no domicílio. Uma utente que se tinha mostrado alerta e activa tinha definhado, até ser alguém semi-consciente num mundo que gira depressa demais para se acompanhar.

A história de vida desta senhora girava em volta do filho. Desde sempre levantara obstáculos à relação com a nora. Protectora, fizera esforço para que a relação não funcionasse e ele estivesse mais perto; no fundo o amor de mãe é complexo...

Agora, acamada e só, havia caído nas mãos do destino e a sorte ditara que fosse cuidada pela mesma mulher que outrora rejeitara... e parece que aquilo que se ama, tal como aquilo que se odeia, é atraído para a nossa existência com igual intensidade... talvez por isso seja mesmo melhor o amar.

Quando chegamos nesse dia, a família estava presente. Ele e ela estavam ali, sem saber o que fazer. Enquanto falávamos e nos explicavam que ela estava fraca, o inesperado aconteceu e a idosa começou a esvair-se no seu leito.

A minha colega, que havia aprendido sobre a dureza da vida da forma mais dura, desenvolvera uma sensibilidade e à vontade que surpreendiam. Uns anos mais tarde, também ela partiria, derrubada pelo cancro.

Nesses momentos ela foi senhora das circunstancias. Convocou o filho para junto do leito. Enquanto havia dificuldade em se conter as lágrimas, ela lá foi dizendo ao filho para agarrar a mão da sua mãe, falando-lhe suavemente.

Nesse momento, um quadro de traços bizarros ficou gravado na minha mente – era a primeira vez que eu via alguém partir.

A nora chorava, já para lá do ressentimento. O drama humano revelava o seu sentido baixo a máscara das lágrimas não contidas.

O filho agarrava docemente a mão da mãe, como se os papéis vitais tivessem sido invertidos e agora fosse um quem protegia e acolhia e a outra quem era cuidada com carinho e ternura.

O corpo da mãe entrou em convulsão, enquanto a vitalidade se esvaia no sono da inconsciência. Ela partia nos braços de quem tanto amara e, no último instante, era revelado o sentido de uma vida de desencontros.

Eu assistia, ainda recém formado, na estranheza de um cenário para o qual ninguém me tivera preparado anteriormente. Há coisas na vida que apenas se aprendem com a vida – e a morte é uma delas.

A partida, o momento de se despojar da existência e ir, o deixar-se levar pelo desconhecido, era um momento de viragem para o qual ninguém parecia preparado. Apenas a minha colega, no centro dos quatro caminhos que se cruzaram por momentos num só, agia como maestro de uma orquestra de sons esbatidos, ela sim ouvinte de uma voz secreta, no interior do ser(se)humano que lhe segredava de forma inaudível como levar esta situação a bom fim.

Assim ficamos, até que o corpo deixou de se desdobrar baixo o peso da consciência que o abandonava. Assim, em silêncio, até que o tempo voltou ao seu vagar costumeiro e o resto do processo foi consumado.

Sempre lembrarei esse momento no que se assiste a família ao passar de um ser querido. Ai sim, verdadeiros Enfermeiros, cuidadores da pessoa e família como um todo.

sexta-feira, maio 29, 2009

Histórias

Histórias...

... de vida, que ninguém ouve, mas que permanecem.

O marido tinha sido invisual, dez anos atrás tinha-o visitado a ele por ocasião de uns tratamentos numa ulcera na perna – coisa corriqueira. Já na altura apoiávamos a filha do casal que, com paralisia cerebral, la ia estando exposta - como santa de veneração doméstica, no altar do hall de entrada da casa bem cuidada... tudo era bem cuidado naquela habitação... os móveis pulcros, o chão asseado, as couves, batatas e árvores de fruto do jardim... o marido e a filha... tudo bem cuidado e arranjado, tudo como deve ser.

O tempo tinha vindo e o marido não resistiu à sua passagem. Ela, no entanto, resistira à tempestade como uma rocha se ergue sobre o mar em fúria: impávida.
Lá começamos a tratar-lhe a ela uma ulcera venosa, na mesma perna e no mesmo local que outrora o marido exibira: brincadeiras da vida.

Com o passar do tempo começara a ficar vergada, seu corpo curvo como haste de arco que já não disparava flechas para o futuro incerto. Mas a vontade inquebrável seguia, e o seu tom austero mantinha as distancias, como ela mantinha as distâncias dos vizinhos e outras gentes da freguesia.

Chegou a vez da filha. Tal “como uma santinha” ela se tinha esvaído e como uma santa a queria ela enterrar.
Encomendou umas vestes brancas, véus para uma cerimónia de bodas com o criador.
Ela mantivera a altivez oculta, na forma dobrada do seu corpo cansado. Como uma vela sem cera ou pavio, assim se tinha esvaído a rapariga mulher de mais de cinquenta anos.

Umas Lágrimas e o luto mantido haviam sido os rastos que deixara a passagem da filha na areia da sua vida.

Nas manhãs de inverno, por vezes demorava-se mais de um quarto de hora até nos abrir a porta. Desta vez tinha uma vizinha amiga, ou uma amiga vizinha, que lá lhe trazia a bacia de água baixo as ordens imperiosas de quem está habituada a mandar. Enquanto lhe desapertávamos as ligaduras ela lá mergulhava a perna na água e – com ou sem indicação clínica – ela lá ia fazendo o que queria e achava necessário, enquanto olhávamos impotentes para a sua exibição de rainha sem reino ou súbditos...

Cada vez mais dobrada e só, lá vinha no nevoeiro da manhã abrir a porta do portão trancada à chave, pois os tempos não estavam para as confianças do passado – com as suas portas e portões abertos.

Agora vai já na terceira família à que tenta deixar como herança - pendente da sua própria vida - a casa e o terreninho onde viu a vida passar.

É a terceira vez que a abandonam e que tem de refazer o testamento para ver se alguém fica e dela toma conta...mas ninguém se deixa ficar e todos passam sem olhar.

Um AVC?! A dona Clotilde teve um AVC?
Sim, lá vai dizendo a colega que a visita numa Unidade dos novos cuidados de saúde Integrados. “Quando fui fazer visita com as voluntárias da paróquia encontrei-a lá. Segue fina e rija como costume”.

Depois do primeiro AVC, a coisa repetiu. A Clotilde de corpo vergado como um arco sem flechas para o futuro, ficou com a memória e a vontade vergadas de igual forma.

Agora visitamo-la – já não há úlceras no seu corpo cansado – mas a vontade e a força de outrora não conseguem vergar a vontade do tempo. Como uma menina desvalida nos olha, enquanto a Enfermeira de reabilitação procura verificar os estímulos que percebe no lado do corpo afectado. Hemiparética e hemiplégica parece ser o veredicto.

Ela lá vai olhando, olhar espantado, enquanto lhe falamos para ver se nos recorda. Lentamente, passo a passo, lá vai balbuciando uma lengalenga pouco estendível...

Talvez seja a música dos seus dias e noites, agora relatados pelo olhar de uma criança que nunca deixou de o ser – apenas esquecera as músicas que cantava enquanto saltava à corda em dias de outrora. No fundo, no fim, voltamos a lembrar o início de onde viemos. Ficamos frágeis como sempre fomos, nos braços que nunca deixaram de nos cuidar...

(Por questões de sigilo profissional, o nome da utente foi alterado. De resto, a história é bem real)

quinta-feira, maio 28, 2009

Campeões



Chegamos ao estádio do Cerveirense porque um dia pensei mostrar aos miúdos como era um estádio relvado. Encontramos gente fantástica que nos convidou a jogar – e jogámos!

Alguém se ofereceu para jogar connosco e lá começou a haver um treinador.

Depois arranjaram chuteiras para os miúdos – e eles deliraram!

Contamos com a ajuda do Armando, um veterano incansável dando tempo e fôlego para que os miúdos corram e se sintam heróis das quatro linhas…

Hoje fiquei no banco dos suplentes. Estava calor e armei em “finório”; habitualmente eles lá conseguem que eu calce umas chuteiras e que corra o campo de lés a lés… o que aqueles rapazes não nos fazem com o seu entusiasmo…

Enquanto via como se desfaziam pela bola, comentei que agora o tempo era mais difícil de gerir, cada vez dando-se mais para o trabalho que se fez competição.

O Eduardo, que é o contínuo do estádio do cerveirense, estava ao meu lado no banco dos suplentes. Lá nos riamos das caneladas do Tiago, da vontade de ir a todas do Rui ou das fintas do Luís. Ele comentou, como se não houvesse margem para dúvidas “Mas compensa, ver a alegria deles compensa bem o esforço”.

Fiquei em silêncio. Ás vezes as observações mais simples são as que trazem mais verdade; às vezes as pessoas simples, em gestos simples, trazem mais verdade ao mundo do que todas as elaborações mentais dos eruditos… eu, pelo menos sinto assim, e nesse momento senti-me pequeno perante um olhar tão profundo da realidade dos nossos pequenos grandes heróis.

Um abraço para a gente do Cerveirense, que cede o seu espaço, o seu tempo e suor para que os meninos do projecto possam sentir a alegria dos grandes jogadores num estádio de verdade. Hoje, o dia sorriu e teve rostos vários à volta do futebol.

Eles foram o Ronaldo, o Liedson bem aqui ao lado... o sonho das crianças alimenta a realidade dos adultos.

sexta-feira, maio 22, 2009

Os palhaços da vida



Hoje enfileirei por mais uma sessão de rastreios em prol de uma associação humanitária. Quem dá o seu tempo a troco de nada, quem se oferece para dar assistência mesmo quando a sua própria vida corre perigo, merece tudo o que se possa dar – chapéu para os soldados da paz. Estes são os meus “5 cent. de euro” para a vossa causa…

Calhou de ir parar a uma freguesia pequena. Num café, lá se ia atendendo como se pode. A um dado momento, vem uma senhora de negro, dos seus quarenta e poucos anos.

“Toma alguma medicação para o colesterol, tensão ou diabetes?” – pois o rastreio é mesmo nestas temáticas. Ela lá olha, olhos de vermelho, esclera injectada em sangue; pesar no seu olhar… está a tomar comprimidos para a depressão… que bem te conheço mulher!!

E, tensa, lá vai confessando que, se os valores da tensão, do “açúcar” e do colesterol não estiverem bem, ela não sabe que mais fazer. Cumpriu tudo o que mandou o médico. Cumpriu bem.

Há um olhar de reconhecimento partilhado enquanto o elemento da mesa aponta os valores num cartão. Sai uma piada fácil; ela sorri… eu também. O rosto pesado e macilento dá lugar a algo que irradia. Consigo ver a sua face pela primeira vez; talvez ela veja a minha. Ela já não de preto e eu já não de bata branca.

Rimos; nossa voz é gargalhada, ainda que na alma haja pranto.

O meu mais sincero obrigado aos bombeiros, por tudo o que fazem no dia a dia. E obrigado também a todos os palhaços que vão enjeitando horas difíceis; como um Benigni numa vida que muitas vezes não é bela.

quinta-feira, maio 14, 2009

Saudades...

Ainda anteontem estava a ver uma médica a trabalhar, enquanto esperava no gabinete por um qualquer papel que facilitasse a vida de algum utente meio perdido entre horas e obrigações.

Conheço esta profissional faz alguns anos; sei que é humana e muito carinhosa com os seus pacientes. O tom de voz era o mesmo, a tentativa de entrar em contacto com o utente era a mesma… usando o mesmo timbre maternal lá ia teclando, conferindo no monitor se a informação estava correcta…

“Agora vai levar estes dona Emengarda, sim?” e lá ia fazendo um monolooongo, falando para o seu ecrã de computador; impressora vomitando papéis com códigos de barras, enquanto a senhora idosa olhava com cara meio estranhada para a profissional que escrevia e escrevia no seu teclado, caçando de vez em quando ícones na tela iluminada com o rato de mesa…

Será necessário pensar que talvez seja imperativo o ser licenciado em dactilografia, doutorado em funcionamento de impressoras e manutenção de “hardware” ou mestre em programas de suporte à prática dos cuidados para ser bom profissional...

Saudades…

Do tempo no que a consulta era simples… duas pessoas – ou mais – cara a cara, duas realidades que se entrecruzam, dois mundos que se entremeiam e dos quais nasce um mundo novo… era o "relacionamento empático" que promovem os cuidados de saúde primários; tempo para ver, ser e ouvir sem mais delongas ou impedimentos do que aqueles pautados pelo senso comum. Ouvíamos histórias de vida e família, pegava-se em bebés ao colo ou conversava-se com crianças que vimos crescer desde o momento no que entraram na vontade de seus pais.

Crescíamos nós como profissionais e expandíamos o ser como pessoas…

Chegaram os cálculos de materiais, os cálculos de rácios, as estatísticas médias em termos de tempo de atendimento, tipo de cuidados prestados… enfim, o relacionamento terapêutico começou a obedecer mais aos números do que às humanas condições e a pessoa ficou obstruída pelos cifrões…

É dado assumido que estamos em época de crise (de valores talvez?!?) e que impera a lei do “vale tudo” para os funcionários: que o “carcanhol” é contado ao cêntimo, os lugares de trabalho calculados por rácio e os atendimentos pautados ao minuto.

Mas, no meio da guerra de trincheiras de lutas de classe, de lutas entre classes, de guerras sem classe… serão os utentes beneficiados com tudo isto?

segunda-feira, maio 04, 2009

Só o Amor




O Homem sofria; podia-se dizer que agonizava...

Naquele lar, ainda que todos estivessem lá nos seus últimos dias – às vezes anos – alguns sofriam mais do que outros... este era dos últimos que são primeiros.

Estava abandonado – mais um caso da segurança social... nenhuma visita, nenhum sorriso que trouxesse algum calor à sua rua deserta e fria, o lugar por onde caminhava desde há meses nas esferas mais exteriores da existência.
Fora maltratado pela família – um olho sempre rasgado, o mesmo que agora sangrava lágrimas de sangue em cada grito de dor física e não só...

Com uma sonda nasogástrica no nariz – aquele tubo que trazia, à rebelia, pedaços de alimentos deglutidos na máquina e directamente para o seu estômago cansado; mãos cobertas com meias para não arrancar o tubo que o obrigava à vida; para não desfazer as fraldas e pintar o quadro negro da sua existência; para retirar os pensos que mantinham as suas carnes flácidas ainda “com alguma dignidade” nesta vida...

Joaquim, com os seus 57 anos, partilhava o quarto com Manuel; juntos perfaziam mais ou menos as mesmas primaveras.

Um berrava sempre que se entrava no quarto e se destapavam os lençóis... talvez recordando a soma das dores já tidas ou berrando desde dentro do túnel negro onde naufragava a consciência da sua existência.
O outro, dizem-me, que chorava com ele no início... agora apenas nos perscruta, olhos arregalados, enquanto se faz o que se tem de fazer...

É alguma coisa da cabeça”, dizem umas - as auxiliares, enquanto a cara permanece coberta por um lenço e as compressas amparam o sangue que escorre do olho... “Óh Cristo, não derramaste tu também lágrimas de sangue por nós?”…

Supõe-se que está terminal: “O Joaquim hoje tem cor de morto”, diz uma ao seu lado... mas, logo que me achego – mesmo com palavras de conforto – e destapo os cobertores, começa a berrar... não há terminais que berrem assim.
Este homem ainda tem vida a vingar dentro de si…

As úlceras são a coisa de costume – peles e tecidos que já se negam a fazer a sua função... mortos desde dentro abrem em chaga e morrem – ou “necrosam”, como dizemos nós – e deve-se cortar, promover a “autólise”... eu seu lá bem mais o quê, enquanto o homem berra a sua dor muda...

A Jacinta chegou lá no final do penso.
Está de férias no lar, mas eu tinha dito que hoje - e durante mais um par de dias - ia passar por lá para “fazer uns pensos” e “dar umas injecções”, enquanto a minha colega está fora.

A Jacinta nunca ocultou a sua simpatia para comigo; hoje, por acaso, estava lá...

O tal Manuel - que perdera o juízo mas ainda se lembrava dos nomes das filhas - saudou-me com um “Hoje parece um artista!”... vá-se lá saber o saber que um ser destes conserva no seu interior... só a vida do Manuel já dava um filme... por isso é melhor vê-lo a “duas dimensões” para não mergulhar na sua vida e ficar preso nas teias da emoção…

A ela – a Jacinta - o Manuel saudou-a com simpatia, falou três ou quatro frases complexas, numa conversa normal... os loucos, no fim, só falam para quem os ama... ou para quem sabe amar; digo eu.

O Joaquim abriu o olho são para ela mal ouviu a sua voz... “Ele disse-me «olá» no outro dia” vai ela discorrendo (mas o homem não estava “terminal”, com uma patologia oncológica degenerativa e terminal a nível cerebral?!?). “Foi quando o sentei e lhe cortei o cabelo, ai não!”...

E fiquei assim, sem poder articular mais palavras do que “pois é”; no fundo, quem ama, sabe e os seres humanos respondem mais ao amor do que a técnicas... as últimas são prás máquinas – nós inventamo-las!

O primeiro é para nós – e foi esse quem nos inventou...


(Os nomes dos pacientes e da auxiliar foram alterados, a instituição não é referida pelo nome, de resto a história é real)

O Dom de "Ouvir"


Ouvindo as ondas, vejo o Oceano; Ouvindo o mar sinto a vida;

Contemplo a tela vivente que se depara em frente, sinto o que nela se passa; precato-me de estar vivo!

Concentro a minha atenção num sorriso de criança, numa vaga que esbarra na rocha, numa gaivota que paira sobre as ondas... e sinto a sua vida! Um caleidoscópio mágico onde a tela se desdobra consoante a atenção nela depositada...

Negar a sua existência é negar a vida; amar a sua essência e aprender das suas múltiplas leis é um trabalho delicado que, na prossecução, exige força de vontade e perseverança.

Delicadeza ao ouvir e força de vontade ao avançar; subtileza ao escutar e perseverança ao realizar; definição ao perscrutar e coragem ao concretizar; inspiração ao ouvir e compreender enquanto que sistematização e plano ao empreender…

Só o Amor Salva



Só o amor liberta, apenas o amor remove as cadeias que agrilhoam o ser.
No abismo da loucura, apenas a luz do amor penetra; na mente caótica, apenas a inspiração nos transforma em mais do que simples seres animados;

Só o amor é verdade, pois entre as sombras a que chamamos “mundo” apenas o corpo vivo do amor deixa rasto nas areias do tempo... tudo o resto é pó;

Se a inspiração desce sobre ti, eleva-te por força e vontade e ajuda a que o sonho que te foi dado se faça realidade;

Sê livre... compromete-te!

segunda-feira, abril 27, 2009

O "Dom"


Cada um de nós é um “Dom”… milhares de milhões de anos para que o Universo tomasse forma auto-consciente e se precatasse de ser um “eu”...

Cada um de nós já foi uma estrela: brilhando e consumindo seu ser até se transformar em carne; de Hidrogénio e Hélio a coisas de Carbono… o caminho que já percorremos!

Cada um de nós tem um “dom”… alguns são “perseverança”, outros “entusiasmo”, alguns são “jovialidade” outros “criatividade”. Alguns são “compromisso” outros são “variedade”…

Alguns caminham em linha recta enquanto outros ondulam nas páginas do real.

Alguns iluminam os tons cinza enquanto outros amansam a tela em tons azuis ou verdes; alguns outros brilham com luz própria em tons encarnados ou amarelos…

Na pintura da vida diária - na partitura do ser - somos tons, somos sons, somos pequenos pontos no quadro da existência onde o “maestro” nos vai tocando ou o “artista” nos vai pintando sem que nenhum saiba ao certo o seu lugar… mas somos parte da “grande obra”, somos gotas no grande Mar…

É certo! Já fomos a luz de uma estrela e somos um dom ao iluminar este Universo com milhões de olhares que o vêem, que se revêem em prismas cada vez mais complexos e coloridos – faces de um diamante vivente que projectam novas realidades na estrutura do real…

És um “Dom”, tens um “dom"… nunca te esqueças disto!...