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terça-feira, março 19, 2013

NEGRUME




Havia uma árvore... mas 
não uma árvore qualquer...

Este ser... 
que ecoara em toda a parte... 
de todo o mundo fizera arte... 
era estranho este estranho querer...

De andar pelo mundo a monte... 
de querer tirar o véu da fronte... 
de - todos - 
fazer novo mundo a nascer...

Era bizarro,
este que nos falava de soslaio.. 
que suspirava com  a brisa
do mundo fazia camisa 
para usar 
- e ser 
- e ter 
- e crer...

VENCER...

Era o ser das ERAS... 
GUARDIÃO das quimeras... 
o que traduziu "querer é poder" 
quando compreendeu 

- sem querer:



QUE queria...

QUEM podia...



Era esta a árvore da VIDA que se manifesta na noite escura e fria quando tudo parece se desvanecer...

Esta escuro este ser... 
bizarro o seu nome... 
estranho o seu alcume.. 
merecida a sua forma de caminhar...

Pois mérito marcava seu andar... 
seu erros e fracassos 
- feitos triunfos a olhos baços -
 de tanto se erguer e levantar: 

uma vez após outra... 
a sombra o fazia esbarrar... 
no chão tombar...
na lama mergulhar... 

e vez após uma - se erguia
de novo
- invocando razão alguma- 
subia
e voltava a caminhar...


Por SER
por querer:

por amar...



E assim surgia - de entre o nevoeiro um novo dia, 
nova forma de começar...

Aquele que brilhou, 
aquela que se chorou, 
aquela que partiu 
que a nós regressou...

Pois - quando passa a viragem, 
quando a maré deixa apenas de si uma aragem... 
quando as rochas o chão secam... 
e as flores de virtude se esvaem.. 

que resta de nós 
além da ilusão?

Que resta do povo, 
das gentes...
da tradição?

Pois foi este que voltou... 

com seu andar frouxo, 
sua voz torta, 
seu corpo curvado pelos anos de tombar.... 

de se erguer 

e regressar...



Por isso  ninguém viu... 
por isso nem o guardião o sentiu... 
por isso entre nós caminhou... 
viu, serviu... 
e chorou...

Por ver a sua gente - outrora erguida...
a sua bandeira - antes garrida...
- feitas fiapos e pó...

Por ver a virtude desconhecida em olhar firme de criança
- adormecida em ninhos de serpes que criam germes e geram dó...

Por ver quando se vende 
- a alma da gente -
por pouca prenda...

e se fica apenas com algumas algemas.. 
e o ouro que roubaram os que nada mais têm para ganhar...

E meditou... 
no obscuro silêncio,
da árvore anterga... 
seca, gasta e velha 
- meditou...

Esperando um dia 
- ver como floria -
alta, esbelta, luzidia
 esperou...



E os tempos se agigantaram... 
de vilãos e servis se fizeram  
de escravos, de escravas se compuseram... 
de tristes solitários que cantavam:

lendas antergas, 
ecos das pedras, 
mensagem do Sol que se ocultou...

E lembrou 
- ele que comentara - 
- na clara e fria voz velada -
a aqueles que ouviram mas que não viam nada:

o mundo regressou a seu lugar

é o tempo!

da palha queimada, 
do trigo fino e do joio na estrada 
- para que se pise na terra e se esbanje a desgana
desgarrando o solitário, virtude velada
na que se perde a chama sagrada
assim o vento a apagou...

- olhou - 
para além, 

do mar... 

onde se atrevera um  dia alguém a plantar 

maças da virtude das que daqui se atreveram a roubar...



E sentiu - 
como toda a terra tremeu e gemeu... 
como o futuro assim o diz e o que perdera o rumo prediz... 

como nunca outrora se entreviu:

que seriam os pobres e descalços a se levantar; 
que seriam os simples a gritar, 
que seriam os despojados de miasmas, 
das peles secas 
das velhas graças 

a se erguer, 
e ousar, 
e lutar

com armas
de vida, 
virtude 
e verdade 

- como sempre fora a sua vontade -

que se erguessem os Nobres 
De entre os que se cobriram do pó...

E assim o fez: 

Do ocidente se ergueu uma luz 
- eco pesado daquela que sempre seduz... 
e o mundo calou:

pois 
- marchando -
milhões nas ruas
 já mais contendo o pranto
 deram lições de primor

e - com louvor -
deram sentido a um sentir perdido
que era outrora a Devoção

a um mundo, a um sonho, a uma tradição...

que ecoara até à linhagem dos nossos avós...
e depois se perdeu...

- agora 
- que estamos sós -
somos como a criança que berra na noite,

sem amparo,
sem roupa,
sem a mãe que a vela...
sem a vida que perdera 
quando o abraço que a protegera
a deixou assim 

- da mão....

- agora 
- que estamos sós -
somos como o ancião 
- cuja força dos dias de outrora, 
se fez prisão e penhora 
- de todo o mérito do seu caminhar...

- agora 
- POBRES de nós - 
vendidos por três ou quatro quinhões 
- de virtudes sandias nos prantos dos dias 
que se perdem à volta de guerras 
que levam a um sitio só: 

loucura e perdição...




Quem vira?!

tantos que desistiram,
tantos que caminhavam já sem vida
tantos que da vida fugiram: 

por estarem 

- pura e simplesmente 

sós?

Quem defendia já:

- as ameias de tal carcassa, 

os mastros lúgubres de tal barcaça... 

se nem remo, nem vela, nem estandantarte... 

nem luz firme para guiar-te .. 
nem estrela na noite para anunciar que chegaste...

Que Aurora luzidia?

promete esta louca e triste gentezita

que chegue até a ti algum dia? 

Essa gentalha - que vaga pelo mundo
queimando o que pode sendo eles palha,

aproveitando dos que já não se erguem...

assim vagam... estrada fora 

- fazendo sua a lei enquanto o tempo estragam - 

Em nós a hora demora
esperando o canto desse apoiado na anterga árvore: 

que murcha em cada galho que lhe partem, 
em cada folha sua que queimam ou que deixamos de parte...
em cada fina flor que arde nas mãos do ímpio,
em cada fruto devorado pelo desejo não sadio...

ainda não vemos como estamos sós?!... 

esperamos a que fale esse que guarda a árvore?

a vida?...

que palavra de ânimo, que gesto equanime?...

que esperamos?

que nos diga?

se nós lhe falamos

à VIDA!

em insulto, 
em ousadia 

em falta de escrúpulos para caminhar
para onde ninguém nos obriga
pelo simples facto de sentir
que a vida perdeu o sentido para ser vivida!

com amor, louvor: 

mérito, brio e devoção?...

O de negro se mantém velado... 

caminha entre nós... 

está em todo o lado... 

ouve o que sentes e apoia o que não vês...

espera o momento para entrar e sagrar 
como seu este nosso mundo e o ser que tu és...

E tu - sim TU!

que tens feito?

quantos gestos de ousadia tens manifesto,
quantos obtusos adversários da vida tens debelado?

quantas mentiras 
com tua verdade tens iluminado,

quantos perdidos tens guiado,
quantas injúrias tens suportado com a luz da verdade do teu lado?...

quanto esperas esperar para começar a marchar?... 

para ocupar o teu lugar... 
para lembrar: 

que o SER é primaz aqui e em todo lugar
 em ti, em mim e em todo o quiser escutar

vivendo assim, 
em ti, em mim 

ecoando em nós 
e em todo o quiser acreditar

 - e o mundo se constrói:
com palavras de verdade,
com gestos de sinceridade
com uma única crença afinal:

somos o fruto da vida, 
somos o dom da alegria 

- pelo que não podemos calar... 
desesperar... 
ou deixar de o afirmar...

Pois ai 
- poderás sorrir - 
mas não viverás; 

- poderás ter casa -
mas não descansarás;

- poderás ter valores, cheios teus odres -

vazios estarão 

- a alma, a vontade e o coração...

de que te valeria já viver - 
se cedeste ao medo, à dúvida ou ao poder?...


- O de negro espera - 
qual a tua forma de lhe responder?...