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quinta-feira, novembro 16, 2006

Partilhar


Pergunto-me continuamente acerca da ostentação que se encontra para além do entusiasmo de se partilhar aquilo que se encontra e que parece fazer sentido (eu procuro o sentido mais do que a coisa em sí).

O que fica para além do entusiasmo e da partilha será talvez a ostentação... a repetição do encontrado outrora uma e outra vez - até o que era novo ficar tão vincado que se torna velho… e me faz velho.

Penso em cada palavra, cada grito de “Estou aqui!”, cada afirmação de identidade como prova da dúvida sobre a identidade própria… penso e revejo o quanto uma palavra traz de sí mesma a contradição.

Eu, palavra de poema intemporal, nota que procura o seu acorde numa melodia universal… tu: que lês e te deleitas no eco das minhas palavras, através do som da tua voz silenciosa entre as colunas da tua mente alerta.

Sabes… pondero em cada passo o valor, a validade dos reclamos de “aqui!”, “assim!”, “é!”… pondero as cobertas e descobertas, as veladas revelações…

Encontro cómica extravagância no verbo em si, mas eco vivo na causa que o gera.

Por isso me tenho recolhido no silêncio, por sentir o quanto os meus urros perturbam as ondas do rio tranquilo.

Hermann Hesse no seu "Siddhartha" disse-o tão bem e de forma tão sublime… suspiro e procuro aprender entre tanta teimosia.

No fundo ainda não encontrei o fundamento da verdade – se a partilha implica ofensa por ser incompleto o ser que se entrega (sendo incompleta a doação) ou se é no partilhar que reside uma das características do estadio humano.

Sendo o humano incompleto e incompleta a sua partilha será o doado factor de desestabilização mais do que de harmonia?

Partilho e pondero, pondero e partilho...