Hoje enchi a página de celebrações… muitas mais haveria para te trazer leitor…
Setembro – mês de casamentos; tradições milenares onde a festa acompanha o momento meses antes do acontecimento e meses depois…
Baptismos – famílias constroem o recinto de festas com folhas de palma entrelaçadas, as mulheres juntam-se para preparar o banquete, búfalos, rés, cabras… tudo é sacrifício para o momento de celebrar…
Povo lindo…
Falo de celebrações pois hoje é meu aniversário.
É-se suposto o celebrar a nossa chegada, a nossa passagem e o adormecer para a consciência do que se é, na promessa do que se será… “Pantha Rhei”.
Nascer…
Dizem que nasceu há pouco a mais nova nação do mundo – Timor Leste.
Que o povo lutou pela independência e que a conseguiu…
A plebe necessita sempre de lendas, mitos para crer… novelas da vida diária para assistir.
Nos cremos no 25 de Abril como libertação de uma ditadura que não tinha mais por onde vingar no contexto internacional no que se enquadrava, o Timorense pode querer acreditar que foi a pressão de nações como Portugal que obrigou Indonésia a ceder…
Nem o interesse do Americano tem nada a ver com a “invasão” nem o interesse do Australiano com a “libertação”…
O Indonésio ficou com os melhores terrenos do meu querido enclave Oe-Cusse, o Australiano com a maior parte da Costa de Timor… a que tem Petróleo…
Tudo tem um preço e os mitos são para calar o povo…Marx falava das religiõesdo como Ópio do Povo , Salazar de governar os Portugueses com Fátima, Futebol e Fado…
E o povo agora – aqui na cidade – passeia t-shirts do Che… nunca vi tantas juntas…
Revolta, frustração...
A promessa que a liberdade trazia não era assim tão dourada.
Os novos horizontes da liberdade são bem mais amargos do que o doce que se perspectivara.
Os que queriam tal acelerado processo convergiam numa ilusão colectiva que suponha a solução de todos os problemas num passe de mágica, num final apoteótico.
O problema dos contos de fadas começa depois do “e viveram felizes…”, a verdadeira história constrói-se quando os violinos calam, quando a cortina desce e o espectador abandona o espectáculo.
Os holofotes internacionais foram para outros espectáculos de massas – outros massacres vendidos pelos media como sobremesa do serão, outras causas e outros tiranos, outros fantoches e “enterteiners” daqueles que assistem impassíveis a dessensibilização da consciência humana….
Os combatentes – senhores do mato – passeiam o seu desemprego pelas ruas…
Os orgulhosos guerreiros da liberdade agora muitas vezes farrapos, espectros do homem de outrora, que devaneia – louco – na selva que não conhece, ruas da cidade que agora pertence ao estrangeiro…
Estes - antes orgulhosos e com um ideal - são agora escravos do novo ocupante, do inimigo que não se pode vencer pois nem se quer se reconhece - motoristas, seguranças de instituições internacionais, rapazes de recados, carregadores de caixas desde supermercados (que só os malae usam) para os seus Land Rover com cunho “U.N”, que reptam pelas ruas do que outrora fora a capital ocupada de um país independente no coração.
O Timorense continua escravo, continua empregado alheio em terra própria, mas agora já não pode combater pois o inimigo invisível é o dono e senhor…
Mas hoje é festa e – por isso – esquecemos por segundos a verdade por detrás da aparência e evocamos o velho adágio de que não há prisão que contenha o espírito do Homem livre - desde que esse Homem não vergue…
1 comentário:
Vim cá ter através do teu amigo Paulo. Tal como tu, também sou minhota. Embora nascida no Porto sou Limiana de coração e até hà 2 anos atrás vivia em Viana do Castelo.
Gostei imenso deste teu espaço, pelos temas abordados, pela sensibilidade transmitida nas palavras, pelas fotografias. Voltarei com toda a certeza, e vou linkar.
Fica bem.
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