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segunda-feira, agosto 07, 2006

When the Lamb opened the Seventh Seal...

E o som do tambor faz tremer a terra… e o som da terra faz vibrar o tambor…

É tempo antergo em terra Cerveira… espíritos passados se tornam presentes entre bombos, folia, Zés pereiras… entre festa e algazarra…

Na praça dez homens se ajuntam – de cores próprias… tambores e bombos estremecem quem passa, ate que passa a vontade de passar e apetece ficar, ouvir, olhar, pertencer…

À roda – gregos e troianos – se deixam levar pelo rio ancestro, pelo ecoar eterno de sons mágicos… dançam connosco as tribos do passado e do presente longínquo… dançam corações que se vão perdendo das bridas… dança o desejo que se faz raiz ao escavar na terra seu ventre mãe…

E se contorcem os corpos enquanto o frémito esvoaça… esgares de prazer no poderio másculo que se elevam de faces outrora banais – régias agora, reais – enquanto o malho das eras cai e recai e descarrega sua ânsia com força na pele curtida…

E a pele vibra e revive baixo o tombo incessante de martelo patriarca, o esgar se eleva em êxtase como Zénon nunca saberia destrinçar – força irresistível contra muro inabalável, terra contra o mar…

O suor são lágrimas de corpo encarcerado em afazeres diáfanos, que do Olimpo dos comuns se eleva baixo o arquejar de tarde tórrida – e os presentes, ausentes de si, se movem já inconscientes, corações largados em torrente – bravio - ao som dos tempos ancestros… os bombos são sangue fervente… que corre, que inunda os ouvidos, o corpo, a mente… tudo.

Uma rapariga de tambor esbraceja - boneca de farrapos movida e repuxada em cordas de prazer engolindo-a em estertores irreflectidos; a multidão olha e se deleita… o fôlego prende enquanto o impossível do furor ainda se transcende… o povo grita como arvores vivas de volta ao seu chão sagrado depois de eras de desterro entre mansões frias – escuras - de prisão e verbo de forma bizarra…

E o tambor não para – coito em cúpula que atinge o clímax … são um só: gentes, homens, tambor e terra – tudo geme, tudo treme, tudo vibra, todo ejacula emoção incontida… olhos exorbitados, boca em esgar entre desejo, espanto - sorriso absorto… anseio… o povo clama, o tambor desgarra, o homem treme, a terra geme… e som termina… e o silêncio…



O silêncio é eterno… o mundo pára… esgotados os amantes todos… se aferram ao que resta do tempo sem ferros… enquanto a mente regressa em correria endiabrada, procurando recobrir o êxtase com seus tudos que são nada… e o som regressa – como um vácuo preenchido de coisas, e sons em redor – o som regressa, o vulgar som regressa… os aplausos começam, os assobios não tardam… o que sobra… é uma peugada do êxtase na nossa areia requintada… o que sobra é uma memória marcada… um algo e um algures que quase tudo, quase nada – se traz na memória do ser – oh celtas! onde vossas taças – para que as encha o hidromel de outras eras, o sabor das crianças da Terra, o sentir, a pertença, o rezar sem palavras?…



A minha verde terra arde… suas cinzas me vestem… seu fôlego me abafa, ofegante … minha terra arde…

O céu é já frio, entre o calor abafante… o Sol é vermelho sem vida, dia é noite distante… minha terra arde...

E chego ao terceiro dia, depois de ver o cadáver exangue da minha Deusa queimada, para encontrar nova luz – nova vida – por entre a noite e a morte inquietante…


1 comentário:

Micas disse...

"O silêncio é eterno… o mundo pára… esgotados os amantes todos… se aferram ao que resta do tempo sem ferros… enquanto a mente regressa em correria endiabrada, procurando recobrir o êxtase com seus tudos que são nada… e o som regressa – como um vácuo preenchido de coisas, e sons em redor – o som regressa, o vulgar som regressa… os aplausos começam, os assobios não tardam… o que sobra… é uma peugada do êxtase na nossa areia requintada… o que sobra é uma memória marcada… um algo e um algures que quase tudo, quase nada – se traz na memória do ser – oh celtas! onde vossas taças – para que as encha o hidromel de outras eras, o sabor das crianças da Terra, o sentir, a pertença, o rezar sem palavras?…"

Um dos teus textos mais bonitos e que mais prazer me deu a ler. Talvez porque o sangue celta também me corre nas veias e, acima de tudo porque gosto de te ler nas entrelinhas do mesmo modo que sabes ler [mesmo sem palavras] a alma das pessoas...
Bem Hajas Finbar, o Cavaleiro da Luz.

Abraço