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domingo, setembro 03, 2006

Pedra

Uma adúltera… o povo preparava-se para a apedrejar… como se, descarregando as pedras ( Cefas – ouves-me?) sobre outrem, se redimissem da sua própria falta de sentido…

Alguém se entremeia… escreve na areia… palavras que passarão… como o pó…

Quem não tiver pecado – atire a primeira pedra”…

E assim ficou – até se ficar só…

Dois – sós…

Ela foi – se pecou ou não – nunca saberemos… são palavras no pó (pecar é latino – significa “falhar o centro” - não o livro).

O que me chamou a atenção foi – ele não atirou pedra alguma (ouviste Cefas?).

Ele não atirou pedra alguma…

8 comentários:

Xandra disse...

"O mundo é de quem não sente. A condição essencial para se ser um homem prático é a ausência de sensibilidade. A qualidade principal na prática da vida é aquela qualidade que conduz à acção, isto é, a vontade. Ora há duas coisas que estorvam a acção - a sensibilidade e o pensamento analítico, que não é, afinal, mais que o pensamento com sensibilidade. Toda a acção é, por sua natureza, a projecção da personalidade sobre o mundo externo, e como o mundo externo é em grande e principal parte composto por entes humanos, segue que essa projecção da personalidade é essencialmente o atravessarmo-nos no caminho alhieo, o estorvar, ferir e esmagar os outros, conforme o nosso modo de agir.

Para agir é, pois, preciso que nos não figuremos com facilidade as personalidades alheias, as suas dores e alegrias. Quem simpatiza pára. O homem de acção considera o mundo externo como composto exclusivamente de matéria inerte - ou inerte em si mesma, como uma pedra sobre que passa ou que afasta do caminho; ou inerte como um ente humano que, porque não lhe pôde resistir, tanto faz que fosse homem como pedra, pois, como à pedra, ou se afastou ou se passou por cima".

Fernando Pessoa, in 'O Livro do Desassossego'

Simbelmune disse...

Lia agora no Bhagavad Gita como Krishna lhe fala ao prícipe Arjuna acerca disto mesmo relativamente a matar os seus familiares no seu governo como rei. Como Krishna fala dos que seguem virtudes pelas recompensas que elas parecem prometer por olhos de escritos religiosos ou sacerdotes legisladores e não por força da sua alma e do seu apelo - como estes últimos são verdadeiros e como os primeiros são falsos... a próxima parábola será a do filho pródigo... ouviste Cefas... tú que eras o mais velho... ouviste?...

Micas disse...

Em poucas e simples palavras; o homem julga e atira a 1ª pedra com imensa facilidade porque não é honesto consigo proprio, tem dificuldade em enfrentar a sua parte sombria ou negativa, e por isso não consegue ver o bem em cada alma. Enquanto o homem não conseguir resolver os seus próprios bloqueios e se julgar a si próprio irá sempre atirar a 1ª pedra a 3ºs...

Passei para te desejar uma boa semana :)

Anónimo disse...

“Que atire a primeira pedra quem nunca pecou”. Estamos em presença da consciência da própria justiça.
Quanto à evocação do Bhagavad Gîtâ ou «cântico ao bem-aventurado», um dos poemas mais belos contido na grande epopeia indiana chamada Mahâbhârata, é preciso esclarecer do que se trata. A guerra nele descrita entre os Kurus e os Pândavas, representa a luta entre o bem e o mal, onde Krishna representa o Homem-Deus, o nosso ego e Arjuna o homem no seu estado evolutivo. Esta é uma das interpretações, que segundo os Mestres hindus podem ser sete. O livro é de entendimento tão difícil, como o pensamento oriental o é para nós, embora sendo um texto bramânico, está nele evidente a tradição védica.
Beijos

Xandra disse...

"A ação prende a pessoa ao mundo fenomênico (samsara) quando é ditada pelo ego, quando está inbuída do senso de fazer-e-receber. Então ela é karma bindu, a pessoa se liga à ação. Mas quando a ação é desinteressada, sem se esperar frutos, ela é libertadora. Então, o karma se torna Karma Yoga".
wikipedia

Xandra disse...

"Não se deve falar, escutar sobre, ou mesmo, pensar nas falhas e nos defeitos dos outros; então, procure suas próprias falhas e corrija-as. Amar o impossível de ser amado, ser amável com o cruel, e ser agradável com o desagradável, é realmente divino. É dito que nós deveremos prestar contas de como tratamos os outros".

Bhagavad Gita

Simbelmune disse...

uau... erudição no seu auge. Hum... vejo que admiras profundamente a tradição Indu. Todo um primor um comentário tão conhecedor. Fico pasmado e grato pela explicação. Bem haja

Simbelmune disse...

Ele não atirou pedra alguma...

Quem não tiver pecado atire a primeira pedra...

O sentido do texto era este...
gostei da forma como derivou nontheless...