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segunda-feira, setembro 11, 2006
Luto
Foi durante a manhã: “Pode-me tirar a tensão Sr. Enfermeiro? Não me tenho sentido bem ultimamente”.
Manhã de Sexta, agitada – pensos e consultas por “milhares” – (hoje estou bem) dou um sorriso e faço uma piada para ajudar a que aguarde mais uns momentos, de forma a ter espaço para a atender: “Não – não posso – se lha tiro, você morre”.
Rio e ela ri comigo, os utentes em volta sorriem.
Minutos depois estamos na sala, pergunto se está tudo bem…
“O meu filho morreu”… “Trinta e quatro anos e foi assim, do coração”… “Você conhecia-o” (ela mostra a foto – conheço).
Há dois anos foi o namorado da minha filha – acidente de carro - você é de Valença, devia conhecer (mais uma fotografia… sim, conheço)…”
(O silêncio)
“Assim, de repente… ele nunca falou em morte… assim fica-se revoltada” (O choro – e eu olhando nesses olhos vermelhos – não há palavras)
Assim de repente… sem meias medidas… ainda há pouco tempo estávamos a rir de uma piada e agora estamos aqui, a sentir o peso da falta, o vazio que fica quando alguém que parte nos deixa…
Procuro imaginar o que será uma morte assim – repentina – de um filho.
Não consigo… não sou mulher, não sou pai… que fazer?
O silêncio é uma tal arma nestas lides e – no entanto – com o passar do tempo, fica-se tão enferrujada pela falta de ambiente para se exercitar…
Carpir a dor… chorar com quem chora.
Um toque para que se sinta presença.
Não há palavras… as palavras não são para confortar quem chora, mas para nos defender a nós do sentir bruto e exposto ao se abrir o peito para a dor da perda…
Melhor viver um pouco na cabeça, amparar a queda, pára-choques da evidência de que tudo passa, de que não ficamos… nem os que amamos…
Ensaio algo mas não me sai.
O luto é mesmo assim – não há palavras.
Ela de negro – eu de branco.
O meu braço no dela, lágrimas que resvalam em silêncio, dois olhares que se encontram.
Ela partiu, eu fiquei… negro no branco.
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