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domingo, setembro 10, 2006

Non ti Muovere

Amores estranhos, amores impossíveis… amores bizarros… quem escreveu as linhas que limitam esse algo a que chamamos “Amor” enquanto o não sentimos? Porque – se o sentimos - nem tempo temos para lhe chamar amor, muito menos vontade de o definir, de o ver em perspectiva, de o escrever ou de sequer o procurar reduzir com circunflexões bizarras atadas a termos e restritivismos…

Um filme que dói… “Não te Mexas”…

Penélope Cruz duas vezes violada pelo pai no espaço de dois dias, em dois filmes diferentes, por realizadores diferentes, de países diferentes… não há coincidências…

Dói o impacto da dor geracional perpetuando-se em relações bizarras, em indiferença, em canibalização dos próprios filhos por pais, “Chronos” da nova era, que matam a vida e escondem o amor baixo camadas de indiferença tão pesadas que a luz até se assusta ao se achegar…

Uma história de conflitos com as aparências, de sentires desviados das ruas normais – como a casa de “Itália” (Penélope Cruz “parlando” Italiano como mulher “vulgar” de guetos citadinos) – uma casa isolada e pobre, no meio de uns blocos de apartamento em construção.

Uma história de contradições – como as mentiras e idiossincrasias de Timóteo – o Cirurgião frustrado, com raiva contida pelo pai indiferente que o abandonara no passado, caminhando para o mesmo túmulo de vida não fosse um acidente fortuito numa estrada abandonada lhe revelar o caminho para a lama onde habita o coração de espinhos de Itália… lama e sangue que, após um dos romances mais intensos, carnais, bizarros e quase a despropósito na tela das verdades meias – termina com uma apoteose de vidas misturadas numa história bem terrena (que se agradece – face a tanto sucedâneo do outro lado do mar, apenas impressionando pelos efeitos pagos a orçamento e nunca pela intensidade ou ousadia de se revelar a pele ferida baixo a máscara social).



Pelo meio ficam as outras histórias – as mentiras que se entretecem em meias verdades – como as saídas da mulher de Timóteo – sempre ausente e em visitas que parecem fictícias ao estrangeiro, as insinuações de paternidade dobrada perante uma filha que começa e termina a história e – como o nome: Ângela – termina por redimir em lágrimas quatro vidas completamente destroçadas no labirinto de sem sentido no que às vezes esta experiência de vida se torna.

Uma fita que dói, que emociona, que prende.
Porque é Italiana talvez, porque mostra o baixo e o alto da carne humana como envelope do desconhecido da alma que a veste, que contrasta tanto e tão bem tanto estilismo de além mar que aborrece como uma caixa de bombons comida e recomida até à exaustão…

3 comentários:

Micas disse...

O tempo tem andado tão curtinho, tão curtinho... entre trabalho e voluntariado não sobra para filmes porque de permeio ainda há prioridades!! mas vou tentar ver logo que possivel.

Abraço e boa semana :)

Anónimo disse...

Um filme inesquecível
Tenho uma extensa colecção de filmes.

Este é um deles. Comprei-o na livraria da Cinemateca. Este + Hapiness, Ler nos lábios e outros.

Já experimenaste a esplanada da Cinemateca? Podes beber um café e depois comprar bilhetes e assistir a um daqueles filmes "especiais".

Na semana do Pasolini vi quase todos. Hellas! Boa vida a minha!
Beijos

Simbelmune disse...

Vida de Bohemia Romântica... ficava-se muito bem a partilhar um passeio com o Toulouse Lautrec em Monte Martre, de Absinto na mão minha cara