Como é possível que o amor humano tenha sido vencido pelo
sistema concebido para dar ao seu criador o espaço e tempo necessários para se
elevar para o seu Ser Redentor?
Como é possível que as prioridades se tenham invertido ao
ponto no que um relógio comande e determine a prioridade humana?
Adoramos a Morte na forma do trabalho que nos rouba e nos
leva o melhor tempo da nossa vida… uma religião de morte a tal ponto divulgada
que se torna “normal”, “normativa”…
Números clausos de soldadinhos de chumbo
marchando: defendendo um credo ronco que os esmaga e que eles – satisfeitos –
louvam e impõem ao que são e ao que amam… coisa doentia que sorri com máscara
óssea num esgar sem graça…
Como é possível que milhões de pessoas – despertem o seu dia
– sem louvar o Amor na pessoa da pessoa amada? Que com eles desperta lado a
lado nessa mesma almofada?
Existe mensagem escrita em forma mais clara? Com olhos, nome, sentir e falar de forma tão igual que resultaria impossível negar que está ali - mesmo ali na frente?
Que estranha cegueira ataca a humanidade a este ponto?...
Como é possível que o amor, na forma, calor, textura… na
voz, presença toque e essência… no espaço ocupado pelo ser adorado - se tenha
tornado tão cinzento, tão invisível… tão vazio: que um qualquer relógio, uma
qualquer rotina… uma outra qualquer outra "prioridade" o faça invisível e o expurgue da
nossa vida?
Como é possível que não desperte, olhe ao lado o ser que amo
– ainda inerte – e logo que abre os olhos para o novo dia que nasce a não
abrace, beije sorria e nela mergulhe o olhar para lhe confessar que é a luz do
amor que nos une que dá sentido ao dia, ao despertar, ao existir, ao levantar…
que tudo o resto são estruturas vazias, repetições de colagens mentais
pretendendo ter a vida do humano Deus que temos que adorar – o Deus “Vida”, o deus “Luz”,
o deus “Calor” - que se mostra a mim em forma humana, concreta e definida – em cada
dia e que – por força da rotina vazia e de um exército de escravos que escraviza
seus semelhantes – começo a deixar de ver?
Como é possível jurar fidelidade ao amor – e no dia seguinte
ter já uma outra luz, um outro olhar - uma outra voz - que limpe completamente do meu ser a
vontade de estar: o querer que ainda uns dias atrás me fizeram olhar para ver:
verdade e querer ao caminhar na luz da seriedade que me estende a mão para a verdade na forma
humana que amo e venero?
Como é possível que a humanidade se desumanize neste ritmo
frenético, suba por sobre os cadáveres caminhantes que preenchem lugares de
trabalho, ruas e estradas e não se precate – na sua cegueira – que caminha oca
e seca e vazia de vida: apenas seguindo a batida ritmada de um tambor eléctrico, de uma
lata criada para gerar autómatos:
quando o verdadeiro coração, o verdadeiro
ritmo - o verdadeiro tempo – lhes late no corpo e no centro do peito?
Que aconteceu neste planeta, que vírus mortal foi largado,
que exterminou a vida humana e no seu lugar gerou escravos?...
Que aconteceu?
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