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quinta-feira, abril 05, 2007

A Ditadura das Aparências - I


Quando é dor que sinto ninguém quer ouvir, partilhar, sentir… por isso aprende-se a mentir de boca cheia apresentando uma maquilhagem cuidada para ocultar a face triste de viver de fachada…

“Inside my heart is breaking, my makeup maybe flaking but my smile still stays on”…

O mais lógico é que te enviem ao Professional e que te digam para ser Profissional… como se pudesse comprar ou vender a minha humanidade e compactar a sensibilidade desta esquizofrenia diária numa caixinha de botões…

Diariamente um par de dezenas de pessoas vêm passear os seus despojos para o local centralizado onde os detritos são armazenados ou tratados. Compactados no mesmo espaço físico e confinados aos mesmos horários de atendimento, os bultos outrora humanos deslizam em silêncio imposto pelos corredores agrestes, enquanto os funcionários deverão mostrar as suas faces pétreas ou as suas técnicas de tratamento aprimorado que emulam a realidade humana outrora existente na fauna terrestre…

Como um bom cão amestrado, sinto a dor e fico no meu lugar… vaga após vaga de solidão, abandono, frustração, apatia, desespero, raiva, revolta… como um rochedo sólido, o profissional serve de consolo vendendo a imagem do ser inamovível que inventa os ícones sociais do sucesso, estabilidade, felicidade, conforto, estatuto; aumentando por sua vez a frustração, dor, raiva e afins dos do outro lado da bata por serem eles os únicos a sentirem que a sua vida está em frangalhos…

Aparências que conservamos para bem do sistema, dos outros, da sociedade, da empresa, da família, do vizinho… de algo ou alguém indeterminado… em qualquer lado… mas continuamos a representar…

É suposto que se conserve a fé num sistema que aumenta diariamente o seu número de utentes, de técnicas, intervenções, medicações quando era suposto ser ao contrário se realmente funcionasse como sector de Promoção de Saúde?...
Promoveremos por acaso a Doença e da Doença até já teremos começado a fazer negócio?...

Não creio que enfiar os doentes a molho num mesmo local e numa mesma “cadeia de montagem” seja “saudável”.
Não creio que ser profissional seja sequer humano e que ser humano tenha alguma coisa a ver com profissionalismo… se não tivéssemos idiossincrasias seríamos cibernéticos e – por enquanto – ainda não estou transformado de todo numa lata executora de leis externas…

1 comentário:

Micas disse...

Não estás nem nunca estarás transformado numa lata executora de leis externas porque a tua lucidez nunca deixará que isso aconteça e acima de tudo, porque tens um coração grande, grande e cristalino...
Abraço