pub

sexta-feira, março 24, 2006

Remember...


Primeiro – um aplauso aos Wachowski – por fazerem filmes inteligentes, ousados e de carácter visual surpreendente numa época de anodia total…

Segundo – V – é um conjunto de apelos que evocam muito mais do que aparece a simples vista…

O primeiro seria uma série dos ’80 – com a mesma tinta vermelha contra uma ditadura disfarçada de conveniência aparente - a ditadura era de Lagartos Extraterrestres e a conveniência era para eles (que se alimentavam de pessoas e da água deste planeta) e para alguns cooperativistas entre os próprios humanos…

O segundo são as alusões…

Quem não vê os prédios, os massacres, os governos que provocam fachadas para encobrir os seus próprios delitos…
Não seria o humor cáustico de “Manobras na Casa Branca” que despertaria as consciências para uma realidade que o próprio filme indica na paródia:
Os artistas usam mentiras para dizer verdades e os governos usam (a língua inglesa não permite saber se – os artistas ou as mentiras) para encobri-las…

O terceiro são os valores: são as ideias, não os homens que prevalecem…

As ideias são universais – era após era, surgem como cogumelos de entre os despojos dos vencidos e afloram à superfície das aparências tão elaboradamente recalcadas nas mentes colectivas…

Mas – os Homens – são os que marcam as diferenças… uma ideia não vence um combate contra a ignorância, o medo ou a opressão – as opções dos Homens sim.

O quarto é a acusação…

Contra os governos (desde alusões claras ao governo U.S.A, passando pela igreja como defensora de mentiras, pelos média encarceradores de verdade, pelas policias guardiãs de ditaduras, por ditaduras disfarçadas de homens de negro e capuchos em prisões ilegais em paradeiro desconhecido…).

A principal acusação é feita por V – num discurso que parece uma admoestação a crianças traquinas: se quiserem ver o culpável pelo estado no que o pais, ou o mundo se encontra – vejam-se ao espelho.
Talvez uma mensagem pouco recalcada no filme, em prol do equilíbrio da consciência individual de cada um, mas uma das mais pesadas e de maior gravidade na fita para cada um dos que a vêem…

O quinto é a revolta…

Não apenas a justificação da violência como forma de gerir justiça ou dar liberdade – pois V auto-imola-se no fim - gesto de que um mundo antigo deve terminar. São os herdeiros desse mundo - que com gesto desmedido enfrentam as armas de peito aberto - assistindo à demolição do antigo edifício de tiranos disfarçados entre diplomacias, que poderão herdar um mundo realmente renovado.

A violência que os cidadãos exercem é uma violência contra os seus hábitos apáticos

A violência recai sobre uma menina que se atreve a dizer verdades onde os pais se olham estupefactos, se atreve a pintar um “V” sobre a tirania moral e ideológica de um cartaz do regime onde a protagonista tenta passar inadvertida, fugindo de si mesma e das suas convicções… não em vão alguém dizia que – o tal reino – teria como premissa que fôssemos como crianças…

Enquanto V desencadeia a sua vingança para o celulóide, enquanto nos procuramos identificar com a libertação da protagonista – do seu medo, das suas memórias, até da sua rotina inicialmente e da tentativa de se mentir a si própria – a violência real passa para o lado do governo e os homens, mulheres e crianças saltam-na indiferentes, ao passar em frente aos homens armados, às barricadas do exército em direcção às casas do parlamento que – inevitavelmente – culminam num estrondo apoteótico e anunciador de uma nova era…

Não caiba a mínima dúvida, é esta a única violência que cada um de nós terá de exercer sobre a ditadura moral, ideológica, política ou mesmo das simples rotinas que encadeiam o ser humano, de forma a estilhaçar o antigo edifício de governos, governantes, exércitos, opressão e poder encarar – finalmente – a sua própria liberdade

Como Natalie Portman – até que não estejamos finalmente livres do medo – não poderemos avançar e fazer frente ao que quer que nos oprima

V – for Verdade

(Não te via há quase um ano... à saída do cinema estavas lá outra vez; não parei, segui - e hei de seguir, porque este mundo fará chacota das minhas opções e da sua falta até que se acabe nele o ar para mim)

3 comentários:

Anónimo disse...

Não te via há quase um ano... à saída do cinema estavas lá outra vez; não parei, segui - e hei de seguir, porque este mundo fará chacota das minhas opções e da sua falta até que se acabe nele o ar para mim)

que pouca sorte!

Do resto gostei muito.

Bom fim de semana, e que não te surpreendam mais encontros...

Simbelmune disse...

ela estava com o Miguel... de novo fez de conta que não me viu... hurts like a knife... being ignored hurts like a knife - que outra opção tinha?

Micas disse...

"são as ideias, não os homens que prevalecem…" uma frase tão curta mas que diz tudo...

Quanto ao final do post, só te posso dizer que tudo na vida tem um sentido e uma explicação, apenas temos de saber descodificar esses simbolos que nos são dados viver e sentir...