Era um dia para acompanhar os jovens do projecto, durante um tempo que lhes permita divertir-se, sonhar e estar para além das fronteiras que a vida diária lhes impõe.
Por motivos vários, cada um dos meninos do "Projecto" está longe das suas famílias e o "Projecto" procura dar-lhes um lar com tudo aquilo que lhes falta.
Estávamos a jogar futebol ao ar livre, chegou um pai com o seu filho de uns quatro ou cinco anos. Jogámos todos juntos. Outro pai e outro filho se nos juntaram e assim já éramos oito a gerar a ilusão de estar juntos, de cooperar para um mesmo fim e de nos divertirmos a tentar...
Tudo correu bem até que dois dos jovens se pegaram.
As crianças do projecto estão longe da sua família biológica. Os mais crescidos têm algum grau de atraso no desenvolvimento.
O Sebastião é bem emotivo e revela, em certas ocasiões, uma maturidade emocional que tira o fôlego. Desta vez procurava leccionar o André e fez o seguinte comentário:
“Lá na escola, quando os outros rapazes me chamam «deficiente» eu também não lhes bato, faço de conta que não oiço e sigo”. Fiquei com estas palavras gravadas.
Andamos nós a brincar a ser adultos, quando crianças num projecto que lhes dá acolhimento, com algum grau de atraso de desenvolvimento, afastados das famílias por motivos vários, podem ter este grau de consciência e agir com tal grandeza perante um mundo hostil, que julga e se julga melhor do que elas…
São estes pequenos detalhes que fazem acreditar, que fazem não desistir quando as ondas são muito altas e parecem querer afundar o barquinho da existência.
Suponho que é difícil compreender como o meter os pés na água do mar pela primeira vez ou jogar futebol durante meia hora num campo relvado, podem trazer tanta felicidade a gente que é tão pequena por fora mas já tão grande por dentro.
Como tudo, é difícil de compreender, mas – no entanto – do mais verdadeiro que há.
Bem haja
*(o Nome do Projecto em questão assim como das crianças foram omitidos ou alterados para proteger ora a instituição ora as próprias crianças que nele se abrigam)
2 comentários:
Não é para entender Daniel, é para sentir e, reflectir...
Bem Haja.
Um abraço
Obrigada pelos sorrisos e pelas alegrias que lhes dás :-)
Eles adoram-te.
Beijo.
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