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terça-feira, junho 14, 2005

Ponte de Vida

Hoje pensei em voltar a ti que lês, que vês o que vai por dentro e que transparece cá para fora.

Pensei em falar do caminho de Santiago - de como o comecei e onde...

Com ele vai um poema que já tem catorze anos, pelo que merece respeito pela sua velhice...(não - não vou virar para o fleumático, é só uma mania de agora e com termo certo)


No fundo, um pouco do que fui e pelo que decidi pôr-me em caminho.

Espero que gostes...

Vida

Só quando o sono me vence confesso a verdade;

Só quando a dor me esquece confesso a saudade

do tempo que já passou, do sentimento que ficou.

Só quando a minha alma chora,

Quando o único que quero é ir-me embora,

Só aí pressinto… conheço a razão:

de ser assim, de aqui estar, de em ti morar.

Pois sou um naufrago do verso,

Que por entre as linhas disfarça seu pesar,

Um ser confuso, submerso,

Que a si mesmo quer matar.

Vago no hoje e perco-me no amanhã,

O sentido da vida desconheço já;

E o horizonte deixa de ser uma linha,

Torna-se no destino que me persegue,

Na lâmina de um verdugo,

A salvação mais triste e covarde

para alguém que - até agora - estragou tudo.

Quero perder e triunfar, viver e acabar;

Quero desistir e começar, estar só e amar;

Quero sonhar e acordar, estar preso e voar,

Viver sem descansar, subir sem saltar;

Quero ser e estar, contigo e em ti,

Amar-te até estourar, odiar-te até ao fim.

5 comentários:

Micas disse...

Mesmo que já tenha catorze anos, este poema, belo e profundo, é um pedaço de ti. Grata pela partilha.

Micas disse...

Por onde andas????

Micas disse...

Tenho saudades de te ler. Respira-se paz neste espaço, fico triste por não lhe dares seguimento. Fica bem.

Anónimo disse...

Com a descoberta de tantos interesses em comum entre um funcionario publico (eu, e tb tu talvez) e um enfermeiro, era inevitavel um comentario e um estimulo a futura troca de impressoes. Coincidências à parte, ha coisas que transparecem na tua escrita e que não deixam duvidas: a procura incessante e austera por algo que existe, mas eternamente indefinido e sempre incompleto, e o valor do caminho, da vida revisitada em cada etapa, e da importancia das pequenas coisas. Das coisas que também eu melhor vi no meu proprio caminho de santiago, e cujo reflexo procuramos preservar no espelho da nossa alma quotidiana. «Fortuna audaces iuvat»

Micas disse...

Continuo a passar por cá na esperança que regresses a este espaço.