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domingo, março 27, 2005
Este guerreiro em Aileu, tipico das zonas de influencia Indonesia (representando o cortar dos grilhoes da escravatura) ficou - ironicamente - atado pela ilusao optica dos cabos electricos de fundo. Cortas-te as correntes da escravatura, escravizaste-te nos fios do desenvolvimento meu rapaz!...
Um catua tomava conta de um galo e de um mundo de criacas que - entretanto - se atiram avidamente ao lixo em busca de coisas interessantes. Num dos bairros perifericos de Dili com uma curiosa inscricao no degrau - junto ao bone do amigo catua - que chamou bastante a minha atencao, nao fosse o humor negro da situacao - "Death Me"...
No servico de cuidados intensivos do Hospital, um catua moribundo - sempre acompanhado da familia - recebe uma das suas ultimas fotos. Ao lado, alguem com asma (no coments) vai recebendo os cuidados da familia que - aqui - esta sempre com o doente, mesmo na UCI. Cuidados "personalizados" a falta de maquinas, medicacao e materiais...
Em pleno gabinete do ministerio das financas, na quarta tentativa para solucionar a isencao de taxas de alfandega de medicacao para doar, enquanto faco sessao de "acampada" esperando que - desta - a questao fique solucionada, nao pude evitar sacar uma foto a estes milhentos "post-sticks" que - com lembretes ate perder de vista - quase subterravam o computador do ministerio. Podem cobrir de aspecto tecnologico a capital da nacao e os seus servicos, mas a forma de pensar e agir - essa...
quarta-feira, março 09, 2005
Ernesto!
Para os que pensem, que as gentes daqui não sabem das coisas, nem como elas se tecem e entretecem desde as comunidades que os teem colonizado e continuam a colonizar, aqui fica a situação curiosa desta criança que encontrei encostada a um jipe U.N com uma T-Shirt do Che...
Saio porta fora da viatura – olho o puto recostado – pronto a meter conversa (como so os daqui sabem fazer, com gesto meigo e palavras ousadas) e, vendo as suas vestes exclamo “ Uau! Che Guevara!”.
O criançolo, de suas poucas primaveras – logo me corrigiu:
‘ERNESTO “Che” Guevara!’
O povo sabe, o povo sente, e tem uma forma muito sub-reptícia de se resistir as colonizações – quer sejam as das regras que vem de fora, as da corrupção militar ou as das falinhas mansas e dentes branqueados vindos de todos os lados de alem mar...
O povo sabe...
Saio porta fora da viatura – olho o puto recostado – pronto a meter conversa (como so os daqui sabem fazer, com gesto meigo e palavras ousadas) e, vendo as suas vestes exclamo “ Uau! Che Guevara!”.
O criançolo, de suas poucas primaveras – logo me corrigiu:
‘ERNESTO “Che” Guevara!’
O povo sabe, o povo sente, e tem uma forma muito sub-reptícia de se resistir as colonizações – quer sejam as das regras que vem de fora, as da corrupção militar ou as das falinhas mansas e dentes branqueados vindos de todos os lados de alem mar...
O povo sabe...
Bem - necessito dizer algo mais? Acho que - desta - a foto fala bem por mim. Estou a sair do jipe, para ir comprar mantimentos para a missao num supermercado aqui perto (que - obviamente - e so para Malae, pois nao ha que pague os precos de la tendo ingressos locais) e tenho este Che mesmo colado a minha porta, encostado ao jipe de marca conhecida, e fazendo a ronda pra ver se crava uns trocos...
Agrilhoados ao "safar-se" com o cartao de telemóvel para vender ao Malae e o Jornal Semanário local, tenta-se sobreviver como se pode numa cidade de loucos. As revoluçoes - desgraçadamente - só ajudam a reforçar o sistema contra o que se erguem. A única revolta que parece valer a pena está na frase de Crishna num dos diálogos do Bahavat Ghita - "...o guerreiro que se conquista a si mesmo..."
segunda-feira, março 07, 2005
Água da Vida
Sim! Começou a chuva e – com ela – a vida renasce com efusividade... A vida que começa e recomeça, numa espiral contínua, num final de capitulo do “Siddartha” de Hesse – onde todos os rostos se fazem um no fluir dos tempos. Aqui estamos em pleno surto de Dengue – chega a água e – para além de tudo o bom que a ela associamos – chegam também os mosquitos com a Malária, a Filariose e o Dengue. Mas – para compensar tudo isto – chegam as manifestações ancestrais de alegria. As pessoas atiram-se às ruas, exultam com a chegada do renovador vital. Enquanto o Malae assiste perplexo dentro da sua viatura, ou no interior de um café, os Timorenses passeiam nas ruas – grupos imensos – como se de um solarengo final de tarde de Verão se tratasse. Falam, riem. Outros literalmente ocupam as estradas – saltam, brincam, riem. Ha muitos que ocupam a rotunda do aeroporto de Dili – jogam à bola, namoram, riem. Este povo – que a nós Malae nos deixa tão sem jeito - é algo de singular. Todo um privilégio o poder sentir-se perto da sua alegria incontida, das suas raízes bem profundas, do seu jeito à flor da pele...
Começam as chuvas - tarde e pouco. Imaginam as pessoas a fugir das chuvas torrenciais, correndo pelas ruas para se abrigar?... Pois, imaginam mal. Centenas de jovens saem à rua e festejam a agua da vida; correm, jogam à bola, namoram... Deitados no asfalto, ocupando as rotundas, estendidos nos escoadouros. Toda uma efusividade para olhos occidentais!...
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